Por O Dia

Reino Unido - Um homem revelou que foi estuprado por uma freira durante a infância e que ela chegou a ter um filho dele. Edward Hayes, hoje com 76 anos, ainda luta por respostas da Igreja Católica. As informações são do jornal britânico 'The Express'. Ele quis trazer seu caso à tona durante o feriado da Páscoa para encarar o tabu sobre abuso sexual cometido por freiras e encorajar outras vítimas a denunciarem após anos de tormento secreto. 

A provação de Hayes durou quase três anos e aconteceu em um antigo orfanato em Lytham, na Inglaterra administrado por uma congregação católica de freiras chamado John Reynolds Home. 

Edward, que hoje em dia é um avô de 76 anos, foi vítima de uma irmã irlandesa de 27 anos, a Irmã Mary Conleth, cujo nome verdadeiro é Bessie Veronica Lawler. Os assédios aconteceram nos anos 1950. Ela trabalhava na lavanderia e pediu aos superiores a assistência de Edward.

O abuso quase diário terminou abruptamente quando a freira ficou grávida e foi enviada de volta à Irlanda. Edward, por sua vez, foi enviado para um albergue em Cumbria, no norte da Inglaterra.

Ele não tem ideia do que aconteceu com a criança e a irmã Conleth está morta.

Mas Edward decidiu renunciar ao seu direito ao anonimato para expor o abuso e encorajar outras vítimas a confrontar suas angústias. "Eu passei pelo inferno pela maior parte da minha vida, tentando esconder o que aconteceu comigo. Ninguém deveria passar por isso." 

Edward, que agora mora em Carlisle, em Cumbria, tinha apenas 10 anos e era conhecido como Billy quando foi colocado naquela casa depois de ser negligenciado por seus pais. Inicialmente, ele viu o novo abrigo como uma bênção. "Foi bom estar em algum lugar aquecido, onde eu me alimentava e tomava banhos quentes".

" Tenho ótimas lembranças dos meus primeiros anos lá. Eu era um ótimo aluno, cantava no coro, conseguia ler latim perfeito e até jogava futebol - sendo elogiado pelos clubes de futebol locais."

A nova vida azedou quando a irmã Conleth chegou, por volta de 1953, e o procurou. "Eu mal havia começado a trabalhar quando aconteceu. Eu tinha apenas 12 anos. Ela puxou minha calça, me empurrou e se deitou em cima de mim no chão."

"Eu odiava fazer aquilo, mas ela dizia que me deletaria se eu não o fizesse. Dizia que eu seria um menino mau e que seria punido. Eu não deixava ela me beijar porque pensava que os bebês eram feitos quando homens e mulheres se beijavam."

Quando Edward tinha 14 anos, ele foi alocado em um quarto privado- algo inédito na casa. Mas a razão logo ficou clara quando a irmã Conleth começou a lhe fazer visitas noturnas.

Em abril de 1956, o abuso chegou ao fim quando a freira declarou que estava grávida. Edward disse que nem entendeu como a engravidou porque nunca a havia beijado. "Nós éramos mais ingênuos naquela época", disse.

Ele foi colocado em um trem para Cumbria depois do Natal com apenas uma pequena mala e foi recebido por um homem que dizia ser seu avô, que o levou para outro orfanato. Ele nunca mais viu o homem.

Ao longo dos anos foi contatado pela madre superiora de sua antiga casa, madre Mary Osmund, mas agora percebe que ela estava apenas vigiando para garantir que a irmã Conleth não entrasse em contato. 

Após um curto período, ele foi adotado por uma família e começou uma vida adulta caótica, marcada pelo alcoolismo. Ele se casou e teve dois filhos, mas diz que não conseguiu construir "relacionamentos normais".

Desesperado e em busca de uma rotina, Edward se juntou ao Exército, inscrevendo-se na Artilharia Real, mas saiu depois de cinco anos em 1969 porque desenvolveu uma úlcera por causa da bebida e recebeu alta médica.

Ele acrescentou: "Eu não consegui me acomodar. Todos os dias eu pensava sobre o abuso, eu comecei a beber para tentar esquecer tudo. Nunca havia contado a ninguém o que aconteceu comigo, nem mesmo à minha esposa."

Somente em 1998 Edward decidiu que era hora de confrontar seu passado depois de ler sobre casos de abusos na Igreja. Ele lutou para encontrar alguém para o ouvir, tendo inicialmente tentado a polícia, um assistente social e, anos depois, a caridade católica Caritas Care. Até que ele descobriu um grupo através de um folheto na biblioteca local em 2010. Foi aí que sua vida começou a mudar.

Edward conheceu Noel Chardon, um companheiro que sofreu abuso de integrante da Igreja Católica. Ele participa de uma missão para ajudar outras pessoas a aceitar suas provações. O professor aposentado de história inglesa e psicólogo treinado foi voluntário em Macsas (Ministro e Sobreviventes de Abuso Sexual do Clero), um grupo de apoio para pessoas abusadas pelo clero.

Com a ajuda de Noel, Edward conseguiu se reerguer e com o tempo, construiu pontes com sua família e agora tem boas relações com sua ex-esposa, filhos e netos. Edward disse que só contou à ex-mulher o que havia acontecido há dois anos e ela disse: "Isso explica muito".

" Agora, quando falo publicamente sobre o que aconteceu comigo, acho que é a situação mais satisfatória possível. Eu posso não ser capaz de vencer, mas posso ficar quite." 

As informações foram publicadas em reportagem do jornal britânico 'The Express'.

Você pode gostar