Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson - AFP
Primeiro-ministro do Reino Unido, Boris JohnsonAFP
Por AFP

Londres - O ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, e o do Brexit, David Davis, renunciaram ao cargo nesta segunda-feira por divergências com a primeira-ministra Theresa May. O ministro da saúde, Jeremy Hunt, é o novo chanceler britânico. 

"Nós não estávamos de acordo em como materializar o resultado do referendo de saída da UE", disse May no Parlamento, três dias depois de ordenar os ministros para que mantivessem estreitas relações comerciais com a UE após o Brexit.

Os eurocéticos mais duros, como Johnson e Davis, pretendiam cortar por completo o vínculo com os sócios europeus - sobretudo, em suas regulações e com a Justiça europeia - e se dedicar a tecer acordos de livre-comércio com países como Estados Unidos, ou Austrália.

As duas demissões fizeram a libra cair 0,1% em relação ao euro e ao dólar (cotados a 1,32 e 1,12, respectivamente).

Líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, disse que a unidade do governo foi uma "ilusão" que "durou 48 horas". Segundo ele, May não está capacitada para alcançar um acordo com Bruxelas, quando sequer consegue alcançar um acordo com o próprio governo.

A nomeação de Boris Johnson em 2016 causou enorme surpresa, porque existia o sentimento de que o ex-prefeito de Londres aspirava ao posto de May e esperaria o melhor momento para conseguir isso. Também foi visto como uma bofetada por Bruxelas, já que Johnson foi o principal líder da campanha de saída da UE.

Jeremy Hunt substitui Johnson

O ministro britânico da Saúde, Jeremy Hunt, foi nomeado nesta segunda-feira ministro das Relações Exteriores após a demissão do eurocético Boris Johnson, anunciou a Downing Street.

"A rainha está contente em aprovar a nomeação de (...) Jeremy Hunt como ministro das Relações Exteriores", indicou o gabinete da premiê em um comunicado.

Davis será substituído por Dominic Raab, até agora secretário de estado para o Brexit.

Deputado desde 2010, Raab, de 44 anos, fez campanha a favor da saída da UE no referendo de 2016.

A nove meses de se materializar a saída da UE, que será em março de 2019, Raab enfrenta o desafio de resolver grandes questões nas negociações, como o futuro das relações comerciais, ou da fronteira norte-irlandesa, a única terrestre entre o Reino Unido e a UE.

Davis renunciou por considerar que o plano de May deixará o Reino Unido, "no melhor dos casos, em uma posição frágil de negociação".

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disser nesta segunda esperar que a renúncia dos ministros possa provocar um recuo no Brexit.

"Os políticos vão e vêm, mas os problemas que criaram para as pessoas permanecem. Só posso lamentar a ideia de que o Brexit não tenha ido com Davis e Johnson. Mas... Quem sabe?", tuitou Tusk.

Ao ser questionado sobre se a saída repentina do negociador britânico nas conversas a respeito do "divórcio" seria um problema, o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou: "Não para nós. Estamos aqui para trabalhar".

May defende seu plano

Em sua primeira entrevista após a renúncia, Davis disse à rádio BBC que não pretende atuar pela queda de May, nem liderar um levante contra o governo, mas a possibilidade é real, dada a fraqueza parlamentar da premiê.

"É uma boa primeira-ministra", desconversou Davis, manifestando a esperança de que sua renúncia sirva para "pressionar para que não se façam mais concessões" a Bruxelas.

Segundo a imprensa britânica, o secretário de Estado para o Brexit, Steve Baker, também entregou o cargo.

Essas renúncias acontecem dois dias depois de o Executivo aprovar um plano para desbloquear as negociações com Bruxelas.

Para Davis, o plano "fará que o suposto controle do Parlamento seja mais uma ilusão do que uma realidade".

 

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