Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa ao lado da mulher, a vice-presidente  Rosario Murillo - AFP photo/ Marvin Recinos
Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, discursa ao lado da mulher, a vice-presidente Rosario MurilloAFP photo/ Marvin Recinos
Por AFP

Washington - A violência que atinge a Nicarágua nos últimos meses e que já deixou 350 mortos é responsabilidade do presidente Daniel Ortega e de sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo, afirma a Casa Branca em um comunicado.

"Ortega e Murillo são responsáveis em última instância pelos grupos parapoliciais favoráveis ao governo e que brutalizaram seu próprio povo", afirma a nota.

No documento, a Casa Branca passa em revista as medidas adotadas a este respeito, em especial a sanção a três funcionários nicaraguenses, passo que considera "o início e não o fim de potenciais sanções".

Além disso, Washington revogou ou restringiu a concessão de vistos a funcionários nicaraguenses que tenham qualquer relação com a repressão aos protestos ou atos de violência.

Segundo a nota, a Casa Branca tramitou a devolução de automóveis que foram doados à Polícia Nacional da Nicarágua e que teriam sido utilizados na repressão.

Nas semana passada, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos havia defendido mais sanções contra o governo Ortega.

Os representantes aprovaram por aclamação a resolução "H.RES. 981", que condena "a perseguição e os assassinatos de manifestantes pacíficos" por parte das autoridades nicaraguenses e pediu ao governo de Donald Trump que sancione os responsáveis.

"O texto pede aos Estados Unidos que continue condenando as atrocidades na Nicarágua, exija a libertação dos detidos injustamente e identifique as pessoas que participam desta violência (...) para que sejam submetidas às sanções previstas na lei Global Magnitsky".

Washington sancionou, em 5 de julho, três funcionários nicaraguenses ligados a Ortega com base na Global Magnitsky, que permite aos Estados Unidos punir os que atentam contra os direitos humanos ou pratiquem atos de corrupção em outros países.

A resolução aprovada na semana passada também exorta à realização de eleições "livres, justas e sob uma observação internacional crível" na Nicarágua, como exigem os manifestantes.

Os protestos na Nicarágua começaram em 18 de abril, com uma manifestação contra a reforma da Previdência, mas logo se transformaram em um movimento contra Ortega, que governa o país desde 2007, após sucessivas reeleições.

Também na semana passada, o vice-presidente americano Mike Pence exigiu de Ortega o fim da violência na Nicarágua, que considerou "patrocinada pelo Estado".

Em uma mensagem publicada no Twitter, Pence também pediu que sejam antecipadas as eleições presidenciais previstas para 2021.

Apoio aos bispos

No fim de semana, milhares de nicaraguenses marcharam em desagravo ao bispado local, acusado de "golpista" pelo governo.

Em um fato inédito, cristãos católicos, evangélicos e mesmo não fiéis caminharam juntos por Manágua, entoando cânticos e rezas e levando imagens da Virgem Maria, assim como bandeiras da Nicarágua e da Igreja para dar seu apoio à instituição eclesiástica.

No contexto de violência, os bispos receberam ameaças, insultos e agressões por parte de membros do governo.

O caso mais grave foi o ataque de paramilitares contra a paróquia da Divina Misericórdia, onde estudantes se refugiaram durante o desalojamento de uma universidade próxima.

Mediadora e testemunha do diálogo nacional, a Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) apresentou uma proposta para democratizar o país, na qual sugere a antecipação das eleições de 2021 para março de 2019.

O governo considerou a proposta uma tentativa de golpe de Estado.

E, em entrevista ao canal de Tv americano FoxNews, Ortega descartou categoricamente renunciar à presidência.ahg/dga/cn

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