Grupo de estudantes de Medicina da Universidade Americana (UAM) presta homenagem à Raynéia Gabrielle Lima - Esteban Biba/EFE/Direitos reservados/Agência Brasil
Grupo de estudantes de Medicina da Universidade Americana (UAM) presta homenagem à Raynéia Gabrielle LimaEsteban Biba/EFE/Direitos reservados/Agência Brasil
Por O Dia

Brasília - A Universidade Americana de Manágua concedeu nesta quinta-feira à brasileira Raynéia Gabrielle Lima, morta a tiros em Manágua, o diploma de Medicina em uma cerimônia organizada pela direção e os estudantes da instituição onde ela cursava o sexto ano de Medicina. Raynéia estava perto de terminar o curso e já fazia residência.

A brasileira trabalhava como médica do Hospital Carlos Roberto Huembes, da polícia nicaraguense. Segundo a embaixada brasileira em Manágua, ela havia saído do trabalho, onde era plantonista, quando foi vítima dos disparos.

Raynéia ingressou ainda com vida no Hospital Militar Escuela Doctor Alejandro Dávila Bolaños às 23h30 de segunda-feira. O disparo tinha comprometido o fígado, o pulmão direito e o coração, segundo o governo.

As bandeiras do Brasil e da Nicarágua foram colocadas na rotatória Jean-Paul Genie, local onde várias flores e fotos lembram os estudantes mortos desde 18 de abril, quando teve início a revolta popular contra o presidente do país, Daniel Ortega.

Com a frase "Nascida no Brasil, Renascida na Nicarágua", os companheiros de faculdade de Raynéia homenagearam nesta quinta-feira a jovem brasileira, que foi atingida por um tiro no peito disparado por um grupo de paramilitares, segundo o reitor da UAM, Ernesto Medina.

Desde o início da crise no país, 448 pessoas morreram na Nicarágua, vítimas da repressão de Ortega aos protestos, de acordo com dados de organizações humanitárias locais e internacionais.

"É preciso dizê-lo, os paramilitares que estavam na casa de Chico López foram os que dispararam", disse Medina.

López é tesoureiro da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), partido de Ortega. Há pouco tempo, ele era gerente de duas grandes empresas estatais dos setores de petróleo e construção.

A estudante brasileira morava no mesmo bairro que López, uma região exclusiva no sul da capital nicaraguense.

"As forças paramilitares sentem que têm carta branca. Ninguém vai dizer nada ou fazer nada com eles. Eles andam por aí sequestrando e fazendo operações policiais", denunciou o reitor da UAM.

O governo da Nicarágua nega que Raynéia tenha sido morta por paramilitares e afirma que a brasileira foi baleada por um vigilante de uma empresa privada de segurança.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU (ACNUDH) responsabilizaram o governo da Nicarágua por assassinatos, execuções extrajudiciais, maus tratos e possíveis atos de tortura.

Depois da morte de Raynéia, o Ministério das Relações Exteriores convocou a embaixadora da Nicarágua em Brasília, Lorena Martínez, para consultas e chamou temporariamente de volta ao país o embaixador brasileiro Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos, em Manágua, para consultas.

Em nota, o governo brasileiro expressou "profunda indignação" com o crime e pediu ao governo da Nicarágua para identificar e punir os responsáveis pela morte de Raynéia.

Estudantes comemoram 100 dias de protestos contra governo

Com os rostos cobertos por lenços, camisas ou máscaras, centenas de estudantes comemoraram os 100 dias de protestos e resistência ao governo do presidente Daniel Ortega, em meio a uma violenta repressão que já deixou mais de 300 mortos na Nicarágua.

"São 100 dias nos quais lutamos e devolvemos a esperança a este país para ser livre", disse à AFP o líder estudantil Lester Alemán, durante um show de protesto no sul de Manágua.

Alemán, membro da opositora Aliança Cívica que participa do diálogo com o governo, condenou a "caça às bruxas" deflagrada pela polícia e por grupos paramilitares contra os participantes dos protestos.

Ao menos 600 pessoas foram sequestradas por paramilitares e estão desaparecidas desde o início das manifestações, segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH).

"Os estudantes hoje têm que esconder o rosto porque é crime" protestar, mas "seguiremos nos manifestando, mesmo que seja de forma anônima", disse Alemán.

Esta semana entrou em vigor a lei que pune com até 20 anos de prisão quem apoia ou participa dos protestos contra o governo.

"A perseguição do governo contra as pessoas que pensam diferente é injusta, mas em 100 dias de luta o povo perdeu o medo e vamos em frente até que a Nicarágua seja livre e democrática", disse à AFP um homem que se identificou como Bismark.

Os protestos na Nicarágua começaram em 18 de abril, com uma manifestação contra a reforma da Previdência, mas logo se transformaram em um movimento contra Ortega, que governa o país desde 2007, após sucessivas reeleições.

*Com informações do Estadão Conteúdo, Agência Brasil e AFP 

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