Casos de inflamação no coração foram observados após a administração das vacinas Pfizer/BioNTech e ModernaAFP

Por AFP
Washington - Um painel de especialistas nos Estados Unidos vai se reunir nesta quarta-feira (23) para revisar cerca de 300 casos de inflamação no coração desencadeada após a injeção de algumas vacinas contra a covid-19, especialmente em adolescentes e jovens adultos.

Esses casos foram observados após a administração das vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna, ambas baseadas na tecnologia de RNA mensageiro.

Os especialistas independentes foram convocados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a principal agência federal de saúde pública do país, para analisar os casos de miocardite e pericardite - uma inflamação do músculo cardíaco, ou da membrana cardíaca, respectivamente.

"Esses casos são raros, e a grande maioria (deles) foi resolvida com descanso e cuidados", declarou a diretora dos CDC, Rochelle Walensky, na semana passada.

Esta reunião do Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) dos CDC estava originalmente agendada para sexta-feira, dia 18. Teve de ser adiada, devido à repentina proclamação de um feriado nos Estados Unidos.

"Os CDC vão apresentar os detalhes de mais de 300 casos confirmados de miocardite e pericardite relatados aos CDC e à FDA (a Agência de Medicamentos e Alimentos), entre os mais de 20 milhões de adolescentes e jovens adultos vacinados nos Estados Unidos", explicou Walensky.

"Nos últimos meses, pedimos aos médicos que ficassem vigilantes e relatassem casos de pacientes com sintomas de miocardite e pericardite após a vacinação", disse.

Os CDC "receberam relatórios médicos detalhados para confirmar os diagnósticos (...) para garantir em tempo real que nossas vacinas são seguras", acrescentou.

Maioria homens
Esses casos foram reportados pela primeira vez em Israel, onde a vacinação foi mais rápida do que na maioria dos países. O Ministério da Saúde israelense levantou no final de maio "uma possível ligação" entre a vacina Pfizer e casos de miocardite em homens jovens, especificando que 95% eram benignos.

Alguns casos também foram detectados na França.

Nos Estados Unidos, em uma reunião do comitê da FDA há duas semanas, foram analisadas informações de um sistema público que permite a qualquer pessoa relatar sintomas graves após a vacinação.

De acordo com esses dados não confirmados, cerca de 530 casos de miocardite, ou de pericardite, foram relatados após a administração de uma segunda dose da vacina da Pfizer, ou da Moderna. Mais da metade eram pessoas com idades entre 12 e 24 anos, a maioria do sexo masculino.O sintoma mais comum foi dor no peito.

"Os casos relatados excedem o número esperado de casos" em circunstâncias normais, disse o diretor dos CDC, Tom Shimabukuro, durante esta apresentação, mas os dados precisam ser verificados.

Risco/benefício
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"Estou preocupado, mas gostaria de salientar que uma relação de causa e efeito ainda não foi estabelecida", disse à AFP Lorry Rubin, diretor do departamento de doenças infecciosas pediátricas do Cohen Children's Medical Center de Nova York.

"Em nosso hospital, vimos casos de adolescentes que tiveram dor no peito um ou dois dias após a segunda dose da vacina de RNA mensageiro", declarou.

Esses casos foram "relativamente leves", e a maioria foi tratada com anti-inflamatório. E, em sua opinião, mesmo que a ligação entre vacinação e miocardite seja comprovada, os benefícios dessas vacinas ainda superam os riscos.

Embora adolescentes e jovens adultos tenham um risco menor de desenvolver casos graves da covid-19, mais de 2.600 pessoas com idade entre 0 e 29 anos morreram nos Estados Unidos, de acordo com dados das autoridades de saúde.

Algumas crianças também ficaram "muito doentes" e sofreram "efeitos de longo prazo" da doença, disse à AFP Lee Savio Beers, presidente da Academia Americana de Pediatria.

"Também é possível ter problemas cardíacos bastante sérios como resultado de uma infecção por covid-19", alertou.

"É claro que continuo aconselhando a vacina para os adolescentes", afirmou o especialista.

Nos Estados Unidos, a vacina da Pfizer está autorizada a partir dos 12 anos, e a da Moderna, a partir dos 18, por enquanto.