Secretário-geral da ONU, António GuterresAFP

Nações Unidas - O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a todos os afegãos que cessem imediatamente a violência, em um relatório apresentado ao Conselho de Segurança da organização, neste fim de semana, em meio a temores de uma nova guerra civil no país.

"Peço o fim imediato da violência, o respeito da segurança e dos direitos de todos os afegãos e das obrigações internacionais do Afeganistão, incluindo todos os acordos internacionais, aos quais este país aderiu", escreveu ele neste documento obtido pela AFP e que ainda não é público.

"Convoco os talibãs e todas as demais partes envolvidas a exercerem a máxima moderação para proteger vidas e garantir que as necessidades humanitárias possam ser atendidas", observou Guterres.

O documento foi elaborado na perspectiva da renovação do mandato da missão política da ONU no Afeganistão, que termina em 17 de setembro.

Neste domingo, 5, o Talibã disse ter conseguido ganhar terreno no Vale do Panshir, o último grande foco da resistência armada ao governo de todo país. De acordo com as Nações Unidas, 18 milhões de pessoas, metade da população, são afetadas pela crise humanitária.

O plano de resposta da ONU está financiado em apenas 38%, e a organização tenta angariar, urgentemente, cerca de US$ 800 milhões, diz o relatório do secretário-geral.

"Peço a todos os doadores que renovem seu apoio para que a ajuda vital seja reforçada com urgência, entregue a tempo, e o sofrimento seja aliviado", insistiu Guterres, que convocou uma reunião internacional em 13 de setembro próximo, em Genebra, com o objetivo de aumentar a ajuda humanitária.

O chefe da ONU também pede a "todos os países que concordem em receber refugiados afegãos e que se abstenham de qualquer expulsão".

"Os relatos de severas restrições aos direitos humanos em todo país são muito preocupantes, especialmente os relatos de crescentes violações dos direitos humanos de mulheres e meninas afegãs que geram temores de um retorno dos dias mais sombrios", alertou.

"É fundamental que os direitos conquistados a duras penas pelas mulheres e meninas afegãs sejam protegidos. Também é fundamental ter um governo inclusivo que represente todos os afegãos, incluindo mulheres e diferentes grupos étnicos", acrescentou o chefe da ONU.
Inicialmente previsto para sexta-feira, 3, o anúncio sobre a composição do novo Executivo talibã, continuava sendo esperado para este domingo.

Em diferentes oportunidades, a comunidade internacional advertiu que julgará o governo talibã por seus atos, e não por suas palavras. Desde que recuperou o poder em 15 de agosto, o movimento fundado pelo mulá Omar prometeu instalar um governo "inclusivo" e garantiu que respeitará os direitos das mulheres.

A desconfiança em relação ao cumprimento destas promessas é grande - tanto em casa, quanto no exterior. No sábado, pelo segundo dia consecutivo, dezenas de mulheres se manifestaram em Cabul para exigir que seus direitos sejam respeitados e que possam participar do futuro Executivo.

Na véspera da reabertura das universidades privadas, os talibãs sancionaram um decreto, especificando que as estudantes destas instituições terão de usar uma abaya preta e um niqab que cubra o rosto. O texto afirma que poderão assistir às aulas, mas não poderão se misturar com os colegas do sexo masculino.