Oficiais das forças especiais da Guiné afirmaram ter conquistado a capital Conacri e 'dissolvido' as instituiçõesAFP

Conacri - Os golpistas em Guiné, que capturaram o presidente Alpha Condé e anunciaram a dissolução das instituições, asseguraram, nesta segunda-feira, 6, que vão respeitar os contratos econômicos e de mineração e evitarão qualquer "caça às bruxas", numa tentativa de tranquilizar os investidores estrangeiros e os cidadãos.

O líder golpista, Mamady Dumbuya, assegurou que o comitê que agora lidera este importante país produtor de bauxita e minerais "respeitará todas as suas obrigações" e "convênios" e continuará "promovendo os investimentos estrangeiros no país".

Também prometeu um "governo de união nacional" para conduzir uma "transição política", sem dar mais detalhes.

Vestido com seu traje militar, o comandante das forças especiais falou esta manhã aos ex-ministros e presidentes das principais instituições do país, que receberam ordem de comparecer a uma reunião no Palácio do Povo, sede do Parlamento.

O tenente coronel Dumbuya pediu que entregassem seus documentos de viagem e seus veículos de função. Mas garantiu que "não haverá espírito de ódio ou vingança (...) não haverá caça às bruxas".

A normalmente movimentada capital guineense estava vazia nesta segunda-feira. Os militares instalaram barricadas nas entradas do centro e soldados armados barravam as pessoas de se aproximarem do palácio presidencial.

Muitas lojas estavam fechadas e o mercado central de Medina, sempre movimentado, parecia inativo.

Essa tranquilidade só foi interrompida pelos aplausos de alguns vizinhos à medida que os veículos militares passavam.

Um coletivo que se mobilizou durante meses contra o terceiro mandato do presidente Condé informou que seus membros presos seriam libertados esta manhã.

As forças especiais guineanas, lideradas por Mamady Dumbuya, afirmaram no domingo, com um vídeo como prova, que capturaram o chefe de Estado para acabar com o que chamaram de "desperdício financeiro, pobreza e corrupção endêmica", assim como "a instrumentalização da justiça e o desprezo dos direitos dos cidadãos".

Os golpistas divulgaram um vídeo do presidente Condé, de 83 anos, vestido com jeans e camisa, sentado em um sofá. Eles afirmaram que o chefe de Estado deposto está bem de saúde e é tratado corretamente.

No domingo, os militares proclamaram a dissolução do governo, das instituições e da Constituição, que Condé promulgou em 2020 e utilizou para disputar no mesmo ano o terceiro mandato, apesar de meses de protestos.

Os golpistas prometeram um período de transição, ao estilo do vizinho Mali. Ao mesmo tempo, no entanto, anunciaram um toque de recolher e fecharam as fronteiras aéreas e terrestres.

Durante a noite, eles anunciaram na televisão a substituição dos ministros pelos secretários-gerais de cada pasta, assim como de prefeitos, subprefeitos e governadores regionais por militares. E pediram aos funcionários públicos que retornem ao trabalho na segunda-feira".

Condenações internacionais
O golpe de Estado aconteceu após meses de grave crise econômica e política neste país do oeste da África, de 12 milhões de habitantes, governado desde 2010 pelo presidente Condé, cada vez mais isolado.

Durante décadas, esta nação pobre, apesar dos recursos minerais e hidrológicos, foi governada desde sua independência em 1958 por regimes autoritários ou ditatoriais.

Este é o terceiro golpe de Estado na região da África subsaariana no período de um ano, depois do Mali ainda em 2020 e do Chade em 2021.

Até o momento não foram registradas mortes, apesar dos tiros ouvidos na manhã de domingo na capital. E nenhum incidente grave foi registrado na madrugada de segunda-feira.

O golpe, que representa o fim de uma década do regime de Condé, provocou cenas de comemoração em vários pontos da capital, principalmente nos bairros favoráveis à oposição.

No plano internacional, o golpe recebeu ampla condenação, do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, à União Africana, passando pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a União Europeia.

O governo dos Estados Unidos também criticou o golpe e advertiu que poderia "limitar" a capacidade americana de ajudar Guiné.