"Fizemos história", comemorou um dirigente talibã após a saída das forças americanas.AFP

O Talibã anunciou nesta segunda-feira (6) que "capturou por completo" o vale de Panjshir, onde estavam entrincheiradas as últimas forças de resistência do Afeganistão e advertiram que responderão a novas tentativas de insurgência.
Após a vitória fulminante sobre as tropas governamentais em agosto e a retirada das tropas dos Estados Unidos na semana passada, depois de 20 anos de guerra, os talibãs tentavam sufocar a resistência concentrada no montanhosos vale de Panjshir, perto de Cabul.
"Com esta vitória, nosso país saiu por completo do pântano da guerra. As pessoas viverão agora em liberdade, paz e prosperidade", afirmou o principal porta-voz do movimento islamita, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.
Em uma entrevista coletiva posterior em Cabul, o porta-voz advertiu contra novas tentativas de insurgência e convocou os integrantes das Forças Armadas do governo anterior a aderir às tropas do novo regime.
"O Emirado Islâmico é muito sensível às insurgências. Qualquer um que tentar iniciar uma insurgência será atacado com firmeza. Não permitiremos outra", afirmou.
Após a queda de Cabul em 15 de agosto, as forças contrárias às novas autoridades formaram no vale de Panjshir a Frente Nacional de Resistência (FNR).
O grupo é formado por milicianos locais leais a Ahmad Massud, filho do famoso comandante Ahmed Shah Massud que enfrentou os soviéticos e os talibãs, e por remanescentes do derrotado exército afegão.
Depois que os talibãs anunciaram vitória, a FNR respondeu que seus combatentes mantêm "posições estratégicas" no vale e que a luta contra os talibãs e seus aliados continuará".
Horas depois, Ahmad Massud convocou um "levante nacional" contra o Talibã.
"Onde quer que vocês estejam, dentro ou fora (do Afeganistão), convoco para que iniciem um levante nacional pela dignidade, liberdade e prosperidade de nosso país", declarou Massud em mensagem de áudio enviada aos meios de comunicação.
O vale de Panjshir é famoso por ter resistido à ocupação soviética e ao primeiro governo Talibã (1996-2001).
Imagens publicadas nas redes sociais pelo Talibã mostram os talibãs no gabinete do governador da província de Panjshir e bandeiras do movimento por todos os lados.
Na madrugada de segunda-feira, a FNR reconheceu muitas baixas em combates durante o fim de semana e pediu um cessar-fogo.
O Irã, que tem uma grande fronteira com o Afeganistão, condenou a ofensiva Talibã no vale de Panjshir, depois de várias semanas em que evitou criticar as ações das novas autoridades afegãs.
Segregação por sexo nas aulas
Três semanas após a conquista da capital Cabul, o Talibã ainda trabalha na formação do governo. O anúncio estava previsto para o fim de semana, mas foi adiado.
Mujahid explicou nesta segunda-feira que a formação de um governo interino será anunciado nos próximos dias, após a solução de "questões técnicas".
O grupo prometeu em várias ocasiões um Executivo mais "inclusivo" e representativo da variedade étnica que durante seu primeiro regime, baseado em uma interpretação muito rigorosa da lei islâmica.
A inclusão de mulheres é improvável. Durante o primeiro governo Talibã, os direitos das mulheres foram muito prejudicados, com proibição de estudar, trabalhar ou sair às ruas sozinhas.
O representante talibã para a Educação afirmou no domingo que as mulheres serão autorizadas a frequentar a universidade, caso as aulas sejam segregadas por sexos ou separadas por uma cortina.
As estudantes também deverão vestir o longo véu que cobre todo o corpo e um niqab que tape o rosto, mas não será necessário utilizar burca, que tem apenas uma pequena abertura na altura dos olhos.
A tomada do poder acarreta múltiplos desafios para o Talibã, incluindo as necessidades humanitárias de grande parte da população que precisa de assistência internacional.
O enviado humanitário da ONU, Martin Griffiths, chegou a Cabul para uma reunião com o comando talibã.
"As autoridades afirmaram que a segurança dos funcionários do setor humanitário e o acesso de ajuda humanitária às pessoas necessitadas estarão garantidos, e que os trabalhadores humanitários (tanto homens como mulheres) terão garantida a liberdade de movimento", afirmou em um comunicado o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.