Presidente do Conselho da União Europeia, Charles MichelAFP
UE denuncia 'falta de lealdade' dos Estados Unidos com a França
Austrália cancelou um amplo contrato com a França para comprar submarinos de propulsão nuclear norte-americanos
Nova York - O presidente do Conselho Europeu, braço executivo da União Europeia, Charles Michel, acusou nesta segunda-feira (20) os Estados Unidos de falta de lealdade depois que a Austrália cancelou um amplo contrato com a França para comprar submarinos de propulsão nuclear americanos.
"Os princípios mais elementares para os aliados são transparência e confiança e estas andam juntas. Estamos vendo uma clara falta de transparência e lealdade", disse Michel à imprensa nas Nações Unidas, antes da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Os europeus, disse, precisam "esclarecer e tentar compreender quais são as intenções que estão por trás deste anúncio".
Michel assegurou que este acordo entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália impulsionará os esforços europeus para construir seu próprio sistema de defesa.
Uma decisão assim "não irá contra nossos aliados, mas se somos mais fortes e mais robustos, significa que nossas alianças também serão mais fortes", acrescentou.
Michel demonstrou certa decepção com Joe Biden, que assumiu a Presidência americana defendendo o reforço das alianças após o período divisivo de seu antecessor, Donald Trump.
Com Trump, "pelo menos estava claro - o tom, a substância, a linguagem - estava muito claro que a União Europeia não era, na sua opinião, um aliado útil", disse Michel.
A Austrália disse compreender a decepção da França, mas que seus submarinos convencionais seriam insuficientes para manter a defesa do país nas próximas décadas em meio às tensões crescentes com a China.
A França se sentiu traída por esta aliança. O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, acusou a Austrália de dar uma "punhalada nas costas" e os Estados Unidos de traição.
A chanceler belga, Sophie Wilmes, que também está nas Nações Unidas para participar da Assembleia Geral, descreveu o acordo com uma "bomba, primeiro para a França, mas também para a Europa e para o mundo em nível geoestratégico".
A Europa precisa ter mais voz e ser mais "presente no cenário internacional", disse.
A ministra manifestou a esperança de que haja uma base comum de entendimento entre os chanceleres europeus que estão em Nova York, embora alguns diplomatas tenham assegurado que a França não está buscando um comunicado formal de apoio.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.