Uma das vencedoras do Nobel da Paz, a jornalista filipina Maria RessaAFP

A jornalista filipina Maria Ressa declarou neste sábado, 9, que seu prêmio Nobel da Paz é para "todos os jornalistas do mundo" e os exortou a continuar lutando pela liberdade de imprensa.
"Isso é realmente para todos os jornalistas do mundo", disse Ressa, em declarações à AFP. A jornalista é uma das vozes mais críticas do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.
"Precisamos de ajuda em muitas frentes. É muito mais difícil e perigoso ser jornalista hoje", afirmou.
Ressa, cofundadora do veículo online Rappler, e o jornalista russo Dimitri Muratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, receberam o Nobel da Paz na sexta-feira, 9, por seus esforços pela "liberdade de expressão".
O reconhecimento de Ressa foi visto como um "triunfo" por organizações humanitárias e pela mídia em um país que é considerado um dos mais perigosos do mundo para a prática do jornalismo.
Maria Ressa, de 58 anos, ex-jornalista da CNN, tem sido alvo de várias investigações e processos judiciais nos últimos anos e tem sofrido intenso cyberbullying, especialmente desde que Duterte chegou ao poder em 2016.
O Rappler publicou artigos críticos ao chefe de Estado, principalmente por sua luta sangrenta e polêmica contra o tráfico de drogas.
- Escudo -
Ressa confia que o prêmio será uma espécie de escudo protetor para ela e outros jornalistas filipinos, que sofrem ataques físicos e cyberbullying.
"Esse 'nós contra eles' não foi criado por jornalistas, foi criado pelas pessoas que estão no poder, que estão comprometidas com uma forma de governar que divide a sociedade", disse, descrevendo o prêmio como uma "dose de adrenalina".
"Espero que permita que os jornalistas façam bem o seu trabalho, sem medo", acrescentou.
Durante anos, Maria Ressa destacou a violência que acompanha a campanha antidrogas iniciada por Duterte, que segundo organizações de direitos humanos já deixou dezenas de milhares de mortos e que o Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizou em setembro a investigar.
O Rappler é um dos meios de comunicação que publica imagens hediondas de assassinatos e questiona seu sustento jurídico.
Outros veículos pagaram caro por essa política, por exemplo, a rádio ABS-CBN, que perdeu sua licença no ano passado.
Mas Ressa acredita que a independência do Rappler permite que se defenda. "Não temos outras empresas para proteger, então é fácil para nós nos defendermos", comentou.
A Nobel da Paz é acusada em sete casos diferentes, todos descritos como "ridículos" pela jornalista, determinada a ganhá-los um a um.
Ela está atualmente em liberdade sob fiança e aguarda recurso após ser condenada por difamação em junho, em um caso em que corre o risco de sete anos de prisão.
Dois casos de difamação online foram rejeitados há alguns meses e Ressa, autora de "How to Stand Up to a Dictator" ("Como enfrentar um ditador", em tradução livre) espera ir à Noruega para receber seu Nobel.
"O maior desafio sempre foi superar o medo", disse. "Ser destemida não significa não ter medo, mas simplesmente saber como lidar com isso", acrescentou ela.
"Às vezes eu digo que realmente teria que agradecer ao presidente Duterte porque você sabe quem é até o momento em que tem que lutar por isso", disse Ressa. "E agora eu sei quem eu sou".
Ressa afirmou que a campanha eleitoral nas Filipinas, que começou este mês com a inscrição de candidatos para mais de 18 mil cargos, será um momento "crítico" e afirmou que seu país está muito perto de ter "democracia apenas no nome".
As eleições vão eleger o sucessor de Duterte, que é proibido pela Constituição de concorrer a um segundo mandato de seis anos.
As pesquisas colocam sua filha Sara e o filho do ex-ditador Ferdinand Marcos, que leva o nome do pai, entre os favoritos. Por enquanto, Sara Duterte negou que queira aparecer.