General Abdel Fatah al Burhane assumiu o controle do SudãoAFP
Há vários dias, membros das forças de segurança, armados, mas à paisana, circulam em caminhonetes em Cartum. "Parecem exatamente com as forças de segurança" da ditadura, diz à AFP Hana Hasan, uma manifestante.
O general Omar Al Bashir governou o Sudão durante 30 anos após um golpe de Estado em 1989. Agora, dois anos depois de sua queda, o general Abdel Fatah al Burhane assumiu o controle do país, detendo quase todos os civis do governo.
Em um longo monólogo à imprensa na terça-feira, o oficial assegurou que o estado de emergência não pretendia reprimir a oposição e queria que todo mundo pudesse se expressar.
Mas desde a segunda, diariamente disparam bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes e quatro já morreram a tiros, segundo os médicos.
O número de vítimas seria maior segundo informações não confirmadas, citadas pela embaixada dos Estados Unidos em Cartum.
Postos de controle móveis
Na noite de segunda, "homens uniformizados armados atacaram o nosso dormitório", conta à AFP Rayane, uma estudante que teme dar seu sobrenome. "Todos fomos levados a uma sala comum e confiscaram nossos telefones", continua. Em seguida, "açoitaram algumas de nós e nos obrigaram a deixar o dormitório imediatamente".
Entre os homens, Emad, um estudante que também não quis revelar seu sobrenome, foi alvo de deboches dos militares enquanto raspavam sua cabeça à força. "Disseram que o meu cabelo era grande demais e muitos de nós fomos espancados", relata à AFP.
Nas redes sociais, os estudantes conseguiram divulgar vídeos do momento do ataque, filmando ao vivo aproveitando a rara conexão da internet enquanto tentavam fugir. Uma estudante, com o rosto ensanguentado, diz ter sido "atingida na cabeça e no braço por militares. Acho que minha mão está quebrada".
A operação visou quem se destacou durante a revolta de 2019, que pôs fim à era Bachir. Vários militares foram sequestrados, entre eles o célebre Sedig Al Sadig Al Mahdi, número dois do maior partido sudanês, Umma, ou Ismail al Taj, figura emblemática da associação de profissionais sudaneses, à frente do levante popular de 2019.
Decididos a acabar com os manifestantes e as barricadas em Cartum, policiais à paisana instalaram nesta quarta-feira, 27, postos de controle móveis.
Eles retiram galhos, pedras e pneus queimados colocados nas ruas pelos manifestantes, e inclusive obrigam os pedestres a ajudá-los sob pena de levar açoites, observou um jornalista da AFP.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.