Joe Biden, presidente dos Estados Unidos AFP

A China criticou nesta terça-feira (7) o "boicote diplomático" de Estados Unidos aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022 em nome dos direitos humanos e afirmou que Washington "pagará o preço".
Os Estados Unidos enviarão seus atletas, mas nenhum representante diplomático, aos Jogos Olímpicos de de 2022 devido a violações dos direitos humanos por parte da China, especialmente na região de maioria muçulmana de Xinjiang (noroeste), anunciou na segunda-feira a Casa Branca, ignorando as advertências chinesas.
O porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, acusou o governo americano de violar o princípio de neutralidade política no esporte.
"A tentativa dos Estados Unidos de interferir nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim devido ao preconceito ideológico, com base em mentiras e rumores, expõe apenas suas intenções sinistras", declarou Zhao.
"Os Estados Unidos pagarão o preço de suas ações equivocadas", afirmou. "Fiquem atentos", respondeu ao ser questionado sobre as represálias da China, antes de voltar a classificar de "mentira do século" as acusações ocidentais sobre a situação em Xinjiang.
Nas ruas de Pequim, alguns cidadãos expressavam seu ressentimento com a decisão dos Estados Unidos. "Você não acha que isso é desrespeitoso com os atletas?", disse Han, um aposentado.
"Os atletas treinam por anos e os Estados Unidos dizem com tranquilidade que seus diplomatas não virão. Eles são covardes", acrescentou.
O governo russo também reagiu à decisão americana e considerou que o evento esportivo "deveria ser livre de política".
Acusada desde 2015 de ter estabelecido um sistema de doping institucional, a Rússia está suspensa das principais competições internacionais até 2022 e seu hino, bandeira e nome não aparecem nesses eventos.
"Menos vírus"
Em Washington, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, explicou na segunda-feira a decisão do governo do presidente Joe Biden.
Se estivesse presente, "a representação diplomática americana trataria estes Jogos como se nada tivesse acontecido, apesar das flagrantes violações dos direitos humanos e das atrocidades da China em Xinjiang. E simplesmente não podemos fazer isso", afirmou.
"Os atletas do Team USA contam com todo o nosso apoio. Estaremos dando a eles 100% de suporte, enquanto torcemos por eles daqui", completou Jen Psaki.
Com o boicote, nenhum representante do governo dos Estados Unidos assistirá aos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos, mas os atletas do país disputarão as duas competições.
"Francamente, os chineses estão aliviados de escutar a notícia, porque quanto menos funcionários americanos presentes, menos vírus", tuitou o jornal estatal chinês Global Times.
Com as restrições da China à entrada de estrangeiros devido à luta contra a covid-19, poucos líderes mundiais devem viajar a Pequim, com exceção do presidente russo Vladimir Putin, que aceitou um convite do colega chinês Xi Jinping.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) saudou o fato de a decisão "política" de Washington não impedir a participação de atletas americanos.
"A presença de funcionários do governo e diplomatas é uma decisão puramente política de cada governo, que o COI, em sua neutralidade política, respeita plenamente", disse um porta-voz da entidade olímpica à AFP.
O Departamento de Estado americano afirmou que funcionários diplomáticos estarão presentes em Pequim "para garantir a segurança de nossos atletas, técnicos e indivíduos associados à equipe olímpica dos Estados Unidos".
O que representa "uma questão diferente da representação diplomática oficial", segundo o porta-voz do Departamento, Ned Price.
Há vários meses, o governo americano buscava a melhor forma de se posicionar com relação aos Jogos de Inverno, um evento popular que será organizado de 4 a 20 de fevereiro de 2022 por um país ao qual acusa de executar um "genocídio" contra os muçulmanos uigures de Xinjiang.
Várias organizações de defesa dos direitos humanos acusam Pequim de ter internado ao menos um milhão de muçulmanos em Xinjiang em "campos de reeducação".
As autoridades chinesas denunciam sistematicamente a "interferência" dos ocidentais que condenam esta situação, afirmando que são "centros de formação profissional" para apoiar o emprego e combater o extremismo religioso.
O ex-chefe da diplomacia americana sob a administração Donald Trump, Mike Pompeo, pediu um boicote total dos Jogos.
"O Partido Comunista da China não dá a mínima para um boicote diplomático, porque no final das contas eles vão receber os atletas do mundo todo", afirmou no Twitter.