Príncipe AndrewAFP

Londres - O príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth II, que enfrenta um processo civil nos Estados Unidos por agressão sexual, perdeu nesta quinta-feira (13) seus cargos honorários à frente de regimentos militares e associações de caridade e não usará mais o título de Alteza Real.

"Com a aprovação e o acordo da rainha" Elizabeth II, "as afiliações militares e os patrocínios reais do duque de York foram devolvidos", disse o Palácio de Buckingham, em um breve comunicado.

Horas antes, mais de 150 veteranos do exército britânico haviam pedido à monarca que retirasse os títulos militares deste ex-piloto de helicóptero, distinguido como herói da Guerra das Malvinas (1982), da qual participou aos 22 anos.

Eles o acusaram de não cumprir as obrigações de "probidade, honestidade e comportamento honrado" que os militares britânicos têm.

Além disso, Andrew deixará de usar o título de Alteza Real, indicou uma fonte da casa real.

"O duque de York continuará sem desempenhar nenhuma função pública e se defenderá neste caso na qualidade de cidadão privado", manifestou-se o palácio em um breve comunicado.

Um juiz de Nova York recusou na quarta-feira um recurso apresentado pelos advogados do príncipe para que indeferisse a denúncia de agressões sexuais apresentada contra seu cliente por Virginia Guiffre, uma americana que o acusa de ter abusado sexualmente dela em 2001, quando tinha 17 anos.

Guiffre é uma das vítimas de crimes sexuais do gestor financeiro americano Jeffrey Epstein, declarado culpado de pedofilia por um tribunal da Flórida e que se suicidou na prisão em Nova York em agosto de 2019, quando aguardava um novo julgamento por tráfico e abuso de menores.

A amizade de Andrew, de 61 anos, com o americano, que defendeu em uma polêmica entrevista com a BBC em novembro de 2019, provocou um grande escândalo que o obrigou a se retirar da vida pública.

O caso de Andrew, considerado o "filho predileto" de Elizabeth II, é um dos muitos escândalos que salpicam a imagem da monarquia britânica com os quais a soberana de 95 anos tem tido que lidar.

Após a decisão da justiça americana, o duque, que nega as acusações, terá que enfrentar um julgamento civil, no qual responderia inicialmente por meio de uma declaração gravada no Reino Unido. A menos seja bem-sucedido em uma apelação ou os dois lados cheguem a um acordo financeiro, as audiências poderão ser realizadas no outono boreal.

'Coelho escorregadio'
Na quarta-feira, um dos advogados de Giuffre, David Boies, disse à BBC que sua cliente não descartava um acordo, mas que dinheiro não seria suficiente.

"É muito importante" para ela "que este caso seja resolvido de uma forma que dê reconhecimento tanto a ela como às outras vítimas", sublinhou.

Ir a julgamento, arriscar revelações e derrotas ou chegar a um acordo que soe como uma confissão: para o príncipe Andrew “não há solução boa”, considera Anna Whitelock, historiadora especializada em monarquia na City University de Londres.

E um acordo financeiro levantaria questões sobre "de onde veio o dinheiro", disse Whitelock à AFP.

Segundo a imprensa britânica, o príncipe resolveu recentemente uma disputa sobre uma dívida de 6,6 milhões de libras, que agora lhe permitiria vender um chalé na Suíça que comprou em 2014 por uma quantia de 18 milhões de libras.

Nos últimos meses, o príncipe Andrew "deu a impressão de ser um coelho escorregadio" ou de "se esconder atrás das saias de sua mãe em sua propriedade escocesa em Balmoral para não receber os documentos judiciais que lhe enviaram", zombou o ex-colunista Jennie Bond, na Sky News.