Nesta terça, negociações significativas estavam em andamento na TurquiaAFP

A Ucrânia acusou nesta quarta-feira (30) a Rússia de bombardear a cidade de Chernihiv, apesar do anúncio de Moscou de que reduziria "radicalmente" a atividade militar, uma promessa recebida com ceticismo por Kiev e seus aliados ocidentais.
O anúncio russo, feito após as negociações entre os dois países em Istambul, gerou esperanças após mais de um mês de guerra, que provocou milhares de mortes.
O número de refugiados superou a marca de quatro milhões, principalmente mulheres e crianças, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A Europa não registrava um fluxo de tal intensidade desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mas, jogando um balde de água fria nas esperanças, a Rússia afirmou nesta quarta-feira que não há nada "promissor" após as negociações com a Ucrânia.
"No momento, não podemos informar nada muito promissor ou um avanço. Há muito trabalho por fazer", declarou à imprensa o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.
Na frente de batalha, a "situação não muda", segundo as autoridades ucranianas. "Chernihiv foi bombardeada toda a noite com artilharia e aviões", afirmou o governador Viacheslav Chaus, que mencionou a destruição de infraestruturas civis e destacou que a cidade continua sem água e energia elétrica.
A cidade, que tinha 280.000 habitantes antes da guerra, está "sem comunicação e não conseguimos mais repará-las", acrescentou o governador, que também citou ataques contra Nizhyn, na mesma região.
Depois de Mariupol, no sul, Chernihiv é a cidade mais afetada pelos bombardeios desde o início da guerra iniciada por Moscou em 24 de fevereiro.
De acordo com as autoridades ucranianas, um edifício do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) foi alvo de bombardeios russos em Mariupol, cidade portuária estratégica cercada.
"Os ocupantes bombardearam deliberadamente um edifício do CICV em Mariupol", escreveu no Telegram Liudmila Denisova, secretária de Direitos Humanos no Parlamento ucraniano.
"No momento, não temos informações sobre vítimas", acrescentou, sem especificar quantas pessoas estariam no prédio no momento do bombardeio.
"Nas últimas 24 horas, os russos bombardearam 30 vezes as áreas residenciais e as infraestruturas civis da região de Kiev", anunciou o governador da região, Olaxander Pavliuk, que citou a zona norte da capital (Bucha, Irpin, Vyshgorod, Brovary) como a área mais afetada.
No leste, o exército ucraniano afirmou que recuperou o controle de uma rodovia estratégica.
- Ceticismo -
A Rússia prometeu na terça-feira, ao final das negociações em busca de paz em Istambul, reduzir "radicalmente" a atividade militar em Kiev e Chernihiv.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou os sinais "positivos", mas afirmou que "não apagam as explosões ou tiros russos".
O Estado-Maior ucraniano expressou ceticismo desde o início e afirmou que a chamada "retirada de tropas" seria provavelmente um rodízio de unidades individuais destinadas a enganar o comando militar das Forças Armadas ucranianas.
O porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, John Kirby, declarou que seria apenas um "reposicionamento" e não uma "verdadeira retirada".
O ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, confirmou as suspeitas ao afirmar que o país alcançou seu "objetivo": "O potencial militar das Forças Armadas ucranianas reduziu significativamente, o que permite concentrar a atenção e os esforços no objetivo principal, a libertação de Donbass".
Ainda assim, o encontro presencial em Istambul foi o primeiro sinal de avanço nas discussões para acabar com o conflito. De acordo com o governo da Ucrânia, existem condições "suficientes" para Zelensky se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin.
- Retirada forçada em Mariupol -
Quase 20.000 pessoas morreram no conflito, de acordo com Zelensky, mas não é possível verificar o número de vítimas fatais com fontes independentes.
A prefeitura de Mariupol denunciou nesta quarta-feira que mais de 70 pessoas - mulheres e profissionais da saúde - foram levadas à força para a Rússia.
Mais de 20.000 habitantes de Mariupol foram levados "contra sua vontade" para a Rússia, de acordo com a prefeitura, segundo a qual os russos confiscaram documentos e direcionaram as pessoas para "cidades russas afastadas".
Zelensky declarou na terça-feira que os ataques russos contra Mariupol eram "um crime contra a humanidade".
De acordo com a ONU, dois dos seis hospitais civis de Mariupol foram destruídos e três foram danificados, enquanto os outros centros de saúde continuam com suas atividades limitadas e com falta de funcionários, água, energia elétrica e equipamentos.
Os bombardeios destruíram pelo menos 65 edifícios e atingiram outros 126, segundo as Nações Unidas;
Quase 160.000 civis permanecem presos em Mariupol e enfrentam uma "catástrofe humanitária": as pessoas vivem em refúgios sem energia elétrica e sem alimentos e água suficiente, de acordo com os depoimentos ouvidos pela AFP daqueles que conseguiram fugir da cidade.