O governo americano busca alternativas para controlar a maior inflação registrada nos últimos 40 anosSteven Ramaherison/Parceiro/Agência O Dia

Washington - A inflação anualizada nos Estados Unidos registrou, em março, seu nível mais alto em mais de 40 anos, sobretudo, pela disparada dos preços da gasolina em meio à guerra na Ucrânia. Os preços subiram 8,5% em 12 meses, contra 7,9% em fevereiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado nesta terça-feira (12) pelo Departamento do Trabalho.
Este informe é o primeiro a incluir o impacto da invasão russa da Ucrânia e das consequentes sanções ocidentais contra Moscou. Neste contexto de crise, os preços dos alimentos e da energia subiram no mundo todo.
Em um mês, os preços aumentaram 1,2%, contra 0,8% em fevereiro. Apenas o preço da gasolina nos Estados Unidos subiu 18,3% em relação ao mês anterior, representando cerca de metade da inflação, acrescentou o departamento.
Os preços totais da energia subiram 11% em relação a fevereiro, o que incluiu um salto de 22,3% nos preços do petróleo, detalhou o relatório.
O conflito na Ucrânia "alimenta a inflação desenfreada por meio do aumento dos preços de energia, alimentos e commodities, agravados por problemas nas cadeias de suprimentos", resume Kathy Bostjancic, economista-chefe da Oxford Economics.
A analista antecipa um pico da inflação em maio, na ordem dos 9%, e depois uma descida lenta, para "terminar o ano acima dos 5%". Os preços da habitação e dos alimentos também estão impulsionando o aumento geral dos preços, de acordo com o relatório oficial.
Mas, se excluídos os preços mais voláteis da energia e dos alimentos, a inflação se modera em relação a fevereiro, ficando em 0,3% contra 0,5%, na comparação mês a mês.
Os preços dos veículos usados, que pressionam a inflação há meses, caíram 3,8% em março. Em contrapartida, em 12 meses, a inflação subjacente atingiu seu nível mais alto desde agosto de 1982.
"Esperamos que (estes dados) sejam o pico, porque realmente não queremos atingir a inflação de dois dígitos", disse o economista Joel Naroff.
O governo já havia alertado na segunda-feira que a inflação seria "extraordinariamente alta" e anunciou hoje uma série de iniciativas destinadas a aumentar o uso e a produção de biocombustíveis, em um esforço para baixar os preços da energia.
Após anunciar o uso de volumes históricos de reservas estratégicas de petróleo, o presidente Joe Biden tem poucos recursos para afastar o que a Casa Branca sistematicamente chama de "efeito Putin" sobre a inflação, em uma tentativa - até agora malsucedida - de minimizar o custo político para o democrata.
O governo decidiu que o combustível E15, que contém 15% de etanol, pode ser vendido no verão, quando sua distribuição é normalmente proibida na época. Também vai liberar fundos para instalações de produção de biocombustíveis e incentivará o desenvolvimento de biocombustíveis para aviação.
Biden espera matar vários coelhos com uma cajadada só: baixar a gasolina nos postos de gasolina, apostar no meio ambiente e na independência energética e ganhar pontos com os produtores rurais, onde não é muito popular.
O presidente democrata, que enfrentará difíceis eleições de meio de mandato em novembro, visita hoje uma fábrica de biocombustíveis em Iowa, onde discursará às 15h45 (horário de Brasília).
Iowa é um estado altamente estratégico em questões políticas e, em 2020, votou esmagadoramente no republicano Donald Trump.
Há um ano, a inflação, que reduz o poder de compra das famílias, está acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano). Março é o sexto mês consecutivo em que a inflação anualizada permanece acima de 6%.
Em meados do mês passado, o Fed começou a elevar suas taxas de referência - em 0,25 ponto-base para 0,25%-0,50% ao ano - para encarecer o crédito e conter o consumo e o investimento. Os ajustes continuarão ao longo do ano.