Joe Biden subiu o tom do discurso direcionado à China em meio aos rumores de reintegração da Taiwan ao paísAFP

Tóquio - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reafirmou, nesta segunda-feira, 23, o compromisso com a defesa militar de Taiwan caso a China tente tomar pela força o controle da ilha autônoma. Autoridades chinesas rebateram a declaração e subiram o tom ao dizer que líder americano está "brincando com fogo".
Biden fez as declarações em Tóquio, durante uma visita oficial ao Japão, onde se reuniu com o primeiro-ministro Fumio Kishida. No fim de semana, ele visitou a Coréia do Sul. O governo americano considera Japão e Coréia do Sul eixos da ofensiva dos Estados Unidos contra a crescente força comercial e militar da China, assim como parceiros na aliança ocidental para isolar a Rússia após a invasão da Ucrânia.
Em uma entrevista coletiva conjunta, Biden e Kishida adotaram um tom firme a respeito da China e defenderam a "visão comum da região do Indo-Pacífico livre e aberta". Também concordaram na necessidade de vigiar a atividade naval chinesa em uma região na qual Pequim tem grandes ambições.
Ao ser questionado se Washington atuaria militarmente contra Pequim em caso de tentativa chinesa de tomar o controle de Taiwan pela força, o presidente americano respondeu: "É o compromisso que assumimos".
"Concordamos com a política de uma só China, aderimos a ela (...), mas a ideia de que Taiwan pode ser tomada à força não é apropriada", acrescentou.
A China considera Taiwan como uma província rebelde que deve ser integrada ao país, pela força se for necessário. A China está "flertando com o perigo", acrescentou Biden, em referência ao número crescente de manobras chinesas, com exercícios navais e obras de construção na região.
A China considera Taiwan uma província rebelde que deve ser reintegrada ao país, inclusive pela força, se necessário. Horas depois, o governo chinês afirmou que Washington está "brincando com fogo" com esse tipo de declarações.
Os Estados Unidos estão "usando a 'carta de Taiwan' para conter a China, e vão se queimar", disse Zhu Fenglian, uma porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado, frequentemente descrito como o gabinete da China, citado pela agência Xinhua.
De acordo com essa fonte, Zhu "pediu que o governo dos Estados Unidos deixasse de fazer declarações ou ações" que violem os princípios estabelecidos entre os dois países. Nesse sentido, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, argumentou que a "política de uma só China" de Washington para Taiwan "não mudou".
"Ninguém deveria subestimar a firme determinação, a firme vontade e a capacidade do povo chinês de defender a soberania nacional e a integridade territorial", disse, por sua vez, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin.
Biden também atacou o governo russo, que "tem que pagar um preço a longo prazo por sua barbárie na Ucrânia", em referência às sanções impostas por Washington e seus aliados.
"Não se trata apenas da Ucrânia", declarou Biden. "Se as sanções não forem mantidas em muitos aspectos, que sinal enviaríamos à China sobre o custo de uma tentativa de tomar Taiwan pela força?", perguntou.
Na terça-feira, Biden tentará reforçar a liderança americana na região da Ásia-Pacífico em uma reunião de cúpula com os chefes de governo de Austrália, Índia e Japão, o grupo conhecido como "Quad".
A Índia, no entanto, se recusou a condenar de maneira aberta a guerra na Ucrânia até o momento, ou a reduzir os negócios com a Rússia. Biden terá uma reunião a sós com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Durante sua intensa jornada, o presidente americano também anunciou nesta segunda-feira em Tóquio o lançamento de uma nova iniciativa econômica para a região da Ásia-Pacífico, que inicialmente terá 13 países-membros, incluindo Índia e Japão, mas sem a China.
Biden apresentou oficialmente o Marco Econômico Indo-Pacífico para a Prosperidade (IPEF, na sigla em inglês), que prevê a integração em quatro áreas cruciais: a economia digital, as cadeias de abastecimento, as energias verdes e a luta contra a corrupção.
"Estados Unidos e Japão, junto com outras 11 nações, vão lançar a iniciativa econômico para [a região] Indo-Pacífica" declarou Biden durante a coletiva de imprensa com Fumio Kishida.
"É um compromisso para trabalhar com nossos amigos próximos e parceiros na região, diante de desafios para garantir a competitividade econômica no século XXI", acrescentou o presidente americano, que também assinalou que considera a suspensão de algumas barreiras tarifárias para a China.
O governo dos Estados Unidos não tem grande interesse em retornar a um acordo comercial vinculante com a Ásia depois que o ex-presidente Donald Trump se retirou, em 2017, do Tratado de Parceria Transpacífica.
Biden encerrou o dia com um jantar com Kishida e a esposa do primeiro-ministro no jardim de um restaurante exclusivo de Tóquio.