Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, busca alternativas para conter a inflação recorde no paísAFP
EUA: Biden se reúne com 'BC' americano e aciona medidas para conter a inflação
Com a popularidade em baixa, presidente americano avalia medidas a poucos meses das eleições legislativas de meio de mandato
Washington - O governo de Joe Biden, encurralado pela inflação, está acionando todos os mecanismos disponíveis para tentar conter o aumento dos preços e recuperar um pouco de popularidade, a poucos meses das eleições legislativas de meio de mandato. No entanto, a margem de ação do presidente dos Estados Unidos é reduzida.
"Não há muito que o governo possa fazer diretamente para combater a inflação", explicou à 'AFP' Gregory Daco, economista-chefe da consultoria EY-Parthenon.
Joe Biden se reuniu na terça-feira, 31, no Salão Oval com o presidente do Federal Reserve (FED), correspondente ao Banco Central do país, Jerome Powell, e a secretária do Tesouro, Janet Yellen.
Este encontro "é, sobretudo, um símbolo de que a administração é consciente que a inflação afeta numerosas famílias nos Estados Unidos e é um flagelo que precisa ser resolvido de forma urgente", destacou Daco. Mas também mostra que "o governo não tem o poder de limitar a inflação de forma direta", acrescentou o economista.
O Executivo, que, assim como o FED, considerou durante muito tempo que a inflação era um fenômeno temporário, anunciou um plano para promover a construção de casas e tornar as habitações mais acessíveis. Também utiliza as reservas estratégicas de petróleo para tentar conter a escalada de preços da gasolina, que está batendo um recorde atrás do outro.
Outras medidas necessitam de uma aprovação improvável do Congresso, tal como aumentar impostos aos mais ricos e às multinacionais.
O governo também gostaria de reduzir o custo do cuidado às crianças para que muitas mães possam voltar ao mercado de trabalho. A escassez de mão de obra empurra os salários para cima, e isso, por sua vez, impulsiona a inflação.
A maioria das medidas que o próprio presidente cogitou em uma coluna publicada na segunda-feira no 'Wall Street' Journal "requer que o Congresso aprove uma lei ou são políticas que serão pouco efetivas para reduzir a inflação no curto prazo", assinalou um uma nota a economista Stephanie Kelton, da Universidade Stony Brook.
A inflação se moderou em abril, depois de alcançar seu máximo em 40 anos em março. No entanto, ela se mantém alta, em 6,3% nos últimos 12 meses, segundo o índice PCE, de referência do Fed, e 8,3% segundo o índice PCI, usado no cálculo das pensões.
Outra medida possível seria reduzir tarifas sobre produtos chineses que representam bilhões de dólares em importações, uma ação que o governo hesita em implementar dentro de um contexto de tensões diplomáticas com Pequim.
Assim, sem uma verdadeira margem de manobra para agir sobre a inflação, o governo está usando a carta da comunicação. "O presidente destacou sua intenção de fazer o possível para reduzir os custos que os americanos enfrentam", declarou Yellen nesta quarta à emissora CNBC.
Nesse sentido, a secretária do Tesouro mencionou "os medicamentos vendidos com receita, as contas de serviços públicos, coisas nas quais o presidente, sozinho ou junto com o Congresso, pode fazer uma diferença".
Na terça, Yellen também fez uma mea-culpa ao reconhecer que não foi capaz de antecipar o vigor nem a persistência da inflação.
O principal assessor econômico de Biden, Brian Deese, disse na terça-feira aos jornalistas na Casa Branca que o presidente sabe que, "neste momento, os preços são a principal preocupação das pessoas; os preços nos postos de gasolina, nos supermercados".
Esse tema é sua "principal prioridade econômica", reiterou, algo que o próprio Biden já havia dito. "Podemos fazer uma transição para um crescimento estável, sem sacrificar todos os progressos econômicos, se tomarmos as decisões corretas", acrescentou.
Em março, o Fed começou a subir as taxas de juros de referência para encarecer o crédito e, assim, reduzir a demanda. Desde então, crescem os temores de uma desaceleração do ritmo de crescimento, inclusive de uma recessão com o aumento do desemprego.
Daco estima que esse cenário é inevitável: "A desaceleração é almejada, inclusive desejável, já que, sem ela, é pouco provável uma redução da inflação".