Presidente russo Vladimir Putin AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou neste domingo, 5, que Moscou atacará novos alvos se a Ucrânia receber mísseis de longo alcance do Ocidente, horas depois que a capital Kiev foi atingida pela primeira vez em semanas.

Apesar do bombardeio na capital ucraniana, os combates mais intensos têm lugar na cidade de Severodonetsk, onde as tropas ucranianas recuperaram o controle "de metade da localidade", garantiram as autoridades locais.

Putin, por sua vez, advertiu que, se a Ucrânia receber mísseis de longo alcance, "então tiraremos as conclusões apropriadas e usaremos nossas armas [...] para atacar alvos que não atingimos até agora", segundo trechos de uma entrevista que será transmitida hoje pelo canal Rossiya-1.

A declaração do presidente russo chega depois que os Estados Unidos anunciaram na semana passada que forneceriam à Ucrânia um sistema avançado de mísseis.

A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, pediu neste domingo um esforço maior dos países ocidentais no envio de ajuda militar. "Entramos em uma guerra de desgaste e necessitamos de apoio constante. O Ocidente deve entender que sua ajuda não pode ser pontual, mas constante, até nossa vitória", disse, em declarações à imprensa local.
Mais cedo, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, reportou bombardeios ao amanhecer contra dois bairros da cidade, os primeiros contra a capital ucraniana desde 28 de abril.

Segundo autoridades ucranianas, os mísseis russos atingiram infraestruturas ferroviárias. A Rússia, por sua vez, indicou que, com esse ataque, destruiu veículos blindados entregues à Ucrânia por países do Leste Europeu. "Mísseis de alta precisão e longo alcance disparados pelas forças aeroespaciais russas sobre o subúrbio de Kiev destruíram tanques T-72 entregues por países do Leste Europeu e outros blindados que estavam em hangares", disse o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov.

Uma pessoa ficou ferida e jornalistas da AFP viram as janelas de vários prédios estilhaçadas. Leonid, um morador de 63 anos que trabalha em um dos locais bombardeados, contou que ouviu três ou quatro explosões. "Não havia material militar ali, mas eles bombardeiam qualquer lugar", denunciou.


Severodonetsk 'dividida'
Enquanto isso, no centro de Severodonetsk, uma cidade estratégica no leste da Ucrânia, "combates de rua" estão ocorrendo, enquanto as forças russas tentam controlar o Donbass.

Os russos perderam terreno nesta cidade, afirmou neste domingo o governador regional. "Nossas forças armadas limparam a metade" da cidade após forçar as tropas russas a recuar, disse o governador da região de Luhansk, Serhiy Haiday, em uma entrevista publicada em seus perfis nas redes sociais. "Metade da cidade está realmente controlada por nossas forças", acrescentou.

De acordo com Haiday, o general russo Alexander Dvornikov "estabeleceu uma meta: entre agora e 10 de junho tomar Severodonetsk completamente ou controlar a rota Lysychansk-Bakhmut" que abrirá o caminho para Kramatorsk, a capital ucraniana de Donetsk, a outra região do Donbass.

O ministério da Defesa russo declarou no sábado que unidades militares ucranianas estavam se retirando de Severodonetsk "depois de terem sofrido perdas críticas.

A situação também é crítica na localidade vizinha de Lysychansk, onde Oleksandr Lyakhovets, um morador aposentado, explicou à AFP a destruição de sua casa por um bombardeio russo. "Bombardearam aqui sem parar. Foi horrível", disse Lyakhovets, de 67 anos, que apenas teve tempo de salvar seu gato, antes que sua casa fosse queimada pelas chamas da explosão.

A equipe de imprensa da presidência ucraniana informou hoje que nove civis morreram por causa de bombardeios nas regiões de Donetsk e Luhansk. Além disso, a luta segue em outras frentes. De acordo com o ministro da Defesa ucraniano, "a Rússia continua se esforçando para ocupar todo o nosso Estado".

O Kremlin sonha em "reunir as terras" que considera "suas", incluindo "Polônia, países bálticos, Eslováquia e outros", disse Oleksii Reznikov. Crimeia, Donbass, sul da Ucrânia: Desde o início da invasão, a Rússia triplicou a área ucraniana sob seu controle, para cerca de 125 mil km², ou 20% do país, segundo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Na frente sul, na região de Kherson, Moscou "continua a bombardear os territórios ocupados e as posições do exército ucraniano", anunciou a presidência ucraniana, que teme uma crise humanitária nas áreas em mãos russas.

O porto de Mykolaiv também foi atingido por um míssil, assim como uma empresa agrícola no grande porto de Odessa, onde duas pessoas morreram, segundo Kiev.

Questão de sobrevivência
O papa Francisco pediu neste domingo à Ucrânia e Rússia que retomassem "negociações reais" para acabar com um conflito que ameaça com "uma perigosa escalada", em sua mensagem das celebrações de Pentecostes, diante de 25 mil fiéis reunidos na praça São Pedro.

Além de causar milhares de vítimas, a guerra continua a pesar nas exportações de grãos, das quais os países africanos dependem.

Depois de seu encontro na sexta-feira com Putin, o chefe de Estado senegalês e atual presidente da União Africana, Macky Sall, anunciou no sábado sua intenção de visitar a Ucrânia e "contribuir para o retorno da paz".

Longe do campo de batalha, os ucranianos sofreram outra decepção em Cardiff, no País de Gales, com a derrota de sua seleção de futebol no duelo de repescagem para uma vaga na Copa do Mundo do Catar. A Ucrânia perdeu por 1 a 0 contra os anfitriões galeses, que garantiram vaga no Catar.