Nancy Pelosi visitou TaiwanSam Yeh / AFP

Taiwan prosseguiu com o tom de desafio nesta quarta-feira (3) após as ameaças da China, que pretende organizar exercícios militares perto da ilha em represália pela visita da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

A delegação de Pelosi deixou Taiwan nesta quarta-feira à noite (horário local) e seguiu para a Coreia do Sul, próxima escala em sua viagem pela Ásia.

A presidente da Câmara americana havia desembarcado em Taiwan na terça-feira, apesar das ameaças de Pequim, que considera a ilha parte de seu território e denunciou a visita como uma provocação. Pequim afirmou que a viagem terá consequências.

"Isto é uma completa farsa. Estados Unidos violam a soberania da China sob o pretexto da chamada 'democracia'... aqueles que ofendem a China serão punidos", disse o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, à margem de uma reunião da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Phnom Penh.

As autoridades taiwanesas indicaram que durante o dia 27 aviões militares invadiram sua área de defesa aérea (maior que o espaço aéreo de um país).

Taipé, no entanto, mantém o tom desafiante diante do discurso de ameaças.

A presidente taiwanesa Tsai Ing-wen declarou que "ante as crescentes e deliberadas ameaças militares, Taiwan não recuará (...) Vamos manter a linha de defesa da democracia".

A China tenta isolar Taiwan do restante do mundo e não critica os países que mantêm uma relação oficial com a ilha.

Pelosi é a principal autoridade americana a visitar Taiwan em 25 anos.

"Nossa delegação chegou a Taiwan para deixar claro, de forma inequívoca, que não abandonaremos nosso compromisso com Taiwan e que estamos orgulhosos de nossa amizade duradoura", declarou Pelosi, de 82 anos, durante um evento com a presidente taiwanesa.

Antes de partir de Taiwan, Pelosi se reuniu com dissidentes chineses, entre eles Wu'er Kaixi, um dos líderes estudantis dos protestos pró-democracia da praça de Tiananmen em 1989, violentamente reprimidos.

Na terça-feira à noite, o ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador americano Nicholas Burns. O vice-chanceler, Xie Feng, comunicou os "protestos veementes" de seu país e disse que "Taiwan é Taiwan da China", de acordo com a agência estatal Xinhua.

Exercícios militares 
Ao mesmo tempo, o ministério chinês da Defesa prometeu "ações militares seletivas", com uma série de manobras militares ao redor da ilha que começarão na quinta-feira, incluindo "o disparo de munições reais de longo alcance" no Estreito de Taiwan, que separa a ilha da China continental.

Os exercícios militares representam "uma medida necessária e legítima para responder às graves provocações de alguns políticos americanos e dos independentistas taiwaneses", afirmou Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa.

Em relação à "visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são o provocador, a China é a vítima. A provocação conjunta de Estados Unidos e Taiwan aconteceu primeiro, a defesa justa da China veio depois", acrescentou.

Em alguns pontos, a zona de operações chinesas ficará a menos de 20 quilômetros da costa de Taiwan, segundo as coordenadas divulgadas pelo exército do país.

O ministério taiwanês da Defesa respondeu que os exercícios violam as águas territoriais da ilha.

"Esta é uma ação irracional que desafia a ordem internacional", afirmou o porta-voz do ministério, Sun Li-fang.

O Japão expressou preocupação com as manobras da China, que para Tóquio ultrapassam a zona de exclusão econômica.

"Responsabilidade" 
O ministério do Comércio da China também anunciou sanções econômicas, incluindo a suspensão da exportação para Taiwan de areia natural, um componente chave para a produção de semicondutores, uma das principais exportações da ilha. E a administração alfandegária chinesa também cancelou a importação de frutas e alguns peixes de Taiwan.

China e Taiwan estão separadas de fato desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram os nacionalistas, que se refugiaram na ilha.

Washington reconheceu em 1979 o governo de Pequim como representante da China, mas prosseguiu com o apoio militar a Taiwan.

A "reunificação" da China é uma meta prioritária para o presidente chinês, Xi Jinping, que, na semana passada, disse formalmente ao presidente americano Joe Biden por telefone que evitasse "brincar com fogo".