Temor de desastre nuclear em Zaporizhzhia preocupa a comunidade internacionalAFP

Moscou - Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, disseram nesta sexta-feira, 10, que estão a favor do envio, em caráter de urgência, de uma missão de inspeção da Organização das Nações Unidas (ONU) à central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, alvo de bombardeios dos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente.
Em uma conversa telefônica, Putin e Macron defenderam o envio, "o mais breve possível", de uma missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ao complexo nuclear localizado no sul da Ucrâni. Desde março tropas russas ocupam o local sob a justificativa de "avaliação a situação real no terreno", indicou o Kremlin.
Putin acusou os militares ucranianos de "bombardearem sistematicamente o território de Zaporizhzhia", o que "gera o risco de uma catástrofe de grande magnitude", acrescentou a presidência russa em comunicado.
A Ucrânia, por sua vez, garante que a Rússia utiliza a área da usina nuclear para armazenar armas pesadas e realizar bombardeios contra posições ucranianas, o que Moscou nega.
Por outro lado, Putin aceitou que a missão de verificação passasse pela Ucrânia, "respeitando a soberania" ucraniana, informou o Palácio do Eliseu, a sede da presidência francesa.
A situação em Zaporizhzhia causa preocupação mundial. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, instou as Nações Unidas a garantirem a segurança do recinto, após receber na quinta-feira o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Lviv (oeste).
O presidente turco se declarou "preocupado" diante do perigo de uma "nova Chernobyl", em referência ao acidente nesta central ucraniana em 1986, o pior da história nuclear civil. E António Guterres afirmou que qualquer dano infligido à usina de Zaporizhzhia seria "suicídio".
Nesta sexta, Guterres pediu que a Rússia não cortasse o fornecimento de Zaporizhzhia à rede elétrica da Ucrânia, fazendo eco dos temores manifestados pela operadora das centrais ucranianas, Energoatom.
O corte de fornecimento privaria de eletricidade quatro milhões de lares ucranianos. "Obviamente, a eletricidade de Zaporizhzhia é ucraniana", disse Guterres na cidade portuária de Odessa (sul).
"Naturalmente, sua energia deve ser utilizada pelo povo ucraniano", declarou, mais tarde, o diplomata português à AFP.
A visita de Guterres a Odessa acontece no contexto das negociações para conseguir "intensificar" as exportações de cereais dos dois países beligerantes, o que é essencial para aliviar o risco de crise alimentar mundial.
Até o acordo alcançado no mês passado entre Kiev e Moscou, com mediação da Turquia e patrocínio da ONU, as exportações ucranianas estavam bloqueadas pela presença de embarcações de guerra russas e de minas colocadas por Kiev para defender seu litoral no Mar Negro.
Durante a conversa telefônica com Macron, Putin se queixou da persistência de "impedimentos" às exportações agrícolas da Rússia, apesar do acordo, informou o Kremlin. Uma queixa que, no entanto, foi rechaçada pela França.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), 345 milhões de pessoas em 82 países estão em situação de insegurança alimentar aguda - um número recorde - e cerca de 50 milhões em 45 países correm risco de morrer de fome sem ajuda humanitária.
Na frente de batalha, a Rússia continuou bombardeando a província de Donetsk, no leste da Ucrânia, uma região parcialmente controlada por rebeldes pró-Rússia desde 2014.
O responsável ucraniano da província, Pavlo Kyrylenko, informou nas redes sociais que esses ataques deixaram cinco mortos e mais de dez feridos nas últimas 24 horas.
No início da invasão, a Rússia pretendia tomar Kiev rapidamente, mas se deparou com uma resistência ucraniana ferrenha, que recebeu forte apoio financeiro e militar do Ocidente.
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou hoje um novo pacote de US$ 775 milhões em equipamentos de defesa e munições para a Ucrânia, que inclui mísseis Himars, artilharia e sistemas de limpeza de minas.