Desde que Trump deixou a presidência, os funcionários do Arquivo Nacional desconfiavam que ele estivesse escondendo documentosMandel Ngan/AFP
Documentos escondidos por Trump colocavam agentes da Inteligência dos EUA em risco
Departamento de Justiça liberou parte do pedido que explica o mandado de busca e apreensão na casa do ex-presidente
O Departamento de Justiça dos EUA liberou nesta sexta-feira, 26, uma versão editada do pedido que justificou o mandado de busca e apreensão na casa de Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, no início do mês. O documento teve suprimido os trechos mais sensíveis, para não comprometer métodos de investigação e testemunhas. Mesmo assim, ele revela que papéis escondidos na mansão do ex-presidente comprometiam agentes secretos.
O documento de 38 páginas, das quais quase a metade estava censurada, oferece a descrição mais detalhada até agora dos registros do governo que estavam armazenados na propriedade de Trump. Mesmo muito depois de ele ter deixado a Casa Branca, é revelada a gravidade da preocupação do governo com o material retirado sem autorização da Casa Branca.
Pela lei americana, todo documento relacionado ao mandato de um presidente pertence ao governo e não pode ser levado como se fosse propriedade privada, como Trump fez. Ao deixar a Casa Branca, ele deveria ter entregue os papéis para o Arquivo Nacional.
No entanto, desde que Trump deixou a presidência, os funcionários do Arquivo Nacional desconfiavam que ele estivesse escondendo documentos. Funcionários da instituição acharam estranho, entre outras coisas, que as cartas trocadas com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, não constavam nos documentos enviados por Trump.
O Arquivo Nacional tentou negociar a entrega dos documentos. Acionados, o Departamento de Justiça e o FBI fizeram o mesmo. Em janeiro, agentes federais receberam 15 caixas de documentos enviados por Trump. Depois de vasculharem as caixas, encontraram 184 documentos confidenciais, incluindo 25 classificados como ultrassecretos.
Lei da Espionagem
Com base em vigilância e informações de inteligência passadas por fontes de dentro do círculo de Trump, o FBI foi informado que nem todos os documentos haviam sido enviados. Esgotadas as alternativas, o Departamento de Justiça, então, protocolou uma ação e conseguiu um mandado de busca e apreensão para revistar a mansão. Foi esse o documento divulgado ontem.
"As caixas (retiradas da mansão no início do mês) continham jornais, revistas, artigos de notícias impressos, fotos, notas, correspondência presidencial, registros presidenciais e muitos registros confidenciais", diz o documento. "A preocupação é que registros altamente confidenciais foram abertos, misturados com outros documentos e identificados de forma inadequada."
Os documentos também poderiam revelar como as agências de espionagem interceptam as comunicações eletrônicas de alvos estrangeiros e dar detalhes das instalações e capacidades do serviço secreto americano. "Documentos classificados nesses níveis geralmente contêm informações de defesa nacional", diz a declaração.
Além de ter levado os documentos ao arrepio da lei, Trump é investigado por violações da Lei de Espionagem, que proíbe a coleta, transmissão ou perda de informações de segurança nacional. O mandado também cita a destruição de registros ou ocultação de material do governo.
Trump insiste que não fez nada de errado, mas já apresentou várias versões para o fato de documentos secretos estarem na sua mansão. Depois de negar que estivessem em Mar-a-Lago, ele acusou o FBI de plantar as provas em sua mansão. Depois, admitiu que havia levado alguns registros, mas que antes ele havia retirado o status de ultrassecreto.
Em determinado momento, Trump chegou a culpar a Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês), agência do governo que cuida da mudança dos ex-presidentes, por ter misturado papéis secretos com documentos privado. A GSA rejeitou as acusações e disse que seus funcionários só tocam em material com autorização da Casa Branca.
Motivos
A grande pergunta ainda não respondida é por que Trump mantinha documentos ultrassecretos na sua mansão. Especialistas em questões de segurança apontam vários cenários, desde a intenção de usar as informações para tirar alguma vantagem comercial até a possibilidade de o ex-presidente simplesmente se gabar de manter relíquias no porão de Mar-a-Lago para amigos ou visitantes.
Durante seus quatro anos de seu mandato, Trump frequentemente se referiu ao alto-comando do Exército como "meus generais" e costumava chamar os recursos arrecadados para o Comitê Nacional Republicano de "meu dinheiro".
Segundo o "New York Times", citando o depoimento de três conselheiros do ex-presidente sobre o caso dos documentos secretos, quando questionado sobre o assunto, Trump dava a mesma resposta sobre os registros: "Eles são meus".
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