O partido de Silvio Berlusconi integra a coalisão que governa a ItáliaAFP/Miguel MEDINA

O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi provocou controvérsia nesta quarta-feira, 19, após aparecer em um áudio vazado pela imprensa italiana afirmando ter retomado relações com o presidente russo Vladimir Putin e fazer ao menos uma afirmação ambígua a respeito do posicionamento de Roma sobre a Guerra na Ucrânia.
O áudio vazado seria de uma conversa de Berlusconi com parlamentares do seu partido, o Força Itália, que integra a coalizão de direita e extrema direita que venceu as eleições legislativas de setembro e é apontado como fiel da balança do novo governo.
"Voltei a ter uma relação com Putin, para ele sou o primeiro de seus cinco verdadeiros amigos", afirmou Berlusconi no áudio. Em outro trecho, afirmou que conheceu o líder russo como uma pessoa "pacífica e sensata" e acrescentou: "Para o meu aniversário (29 de setembro) ele enviou 20 garrafas de vodka e uma carta muito gentil. Eu também respondi com garrafas de (vinho) Lambrusco e uma carta igualmente doce".
Na declaração mais sensível do ponto de vista político, o líder do Força Itália se disse preocupado com o posicionamento do país sobre a Guerra na Ucrânia — a Itália tem acompanhado a União Europeia e apoiado Kiev com auxílio financeiro e bélico, e sancionou a Rússia pela invasão do país vizinho —, afirmando que se a mídia soubesse da sua verdadeira avaliação seria "um desastre".
As declarações de Berlusconi, que inicialmente foram desmentidas por seu partido, foram divulgadas na íntegra por veículos de comunicação do país, provocando todo tipo de reações. Giorgia Meloni, líder da coalizão de direita e provável próxima premiê da Itália, comentou que o magnata é "refém dos pró-Rússia".
A oposição de esquerda não perdeu a oportunidade para destacar as divergências internas da coalizão de direita que deve assumir o poder em poucos dias. "Não é folclore, não são piadas. A nova maioria está começando a mudar a posição da Itália a respeito da Rússia por uma mais ambígua", denunciou Enrico Letta, líder do Partido Democrático no Twitter.
O Força Itália se viu obrigado a divulgar um comunicado oficial para explicar a posição do partido e de Berlusconi diante da Rússia e da Ucrânia, se dizendo "alinhada com União Europeia e Estados Unidos". O jornal La Repubblica estampou "Berlusconi sem freio".
Fiel da balança
A crise na reta final de formação do novo gabinete de governo italiano, expõem o que analistas já vinham apontando como uma fragilidade na posição de Berlusconi dentro da coalizão formada pelo Força Itália, Liga e Irmãos da Itália. Apesar de ser visto como o responsável por aproximar os partidos de seus colegas, antes pequenos e marginalizados, para dentro de seu governo e do mainstream da política italiana nas últimas décadas, o papel do ex-premiê como uma força moderadora e pró-Europa dentro da formação partidária para o próximo governo é controversa.
Mesmo antes do governo começar, as tensões já são evidentes. Na semana passada, quando Berlusconi tomou posse de seu novo assento no Senado, organismo que quase uma década atrás o impediu temporariamente após uma condenação por fraude fiscal, os fotógrafos apontaram as câmeras para anotações dele, talvez deixadas visíveis de propósito, que descreviam Meloni como "prepotente, arrogante, agressiva". Questionada por repórteres sobre o assunto, Meloni retrucou instantaneamente, afirmando que ele se esqueceu de uma adjetivo: "inchantageável".
Berlusconi e Meloni pareceram fazer as pazes durante uma reunião na noite da segunda-feira, em Roma, publicando uma foto em que ambos aparecem juntos, sorrindo - e o ex-premiê qualificou a dupla como "unida".