Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, festejou a retirada das tropas russas da região de KhersonAFP PHOTO / UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / HANDOUT

A Ucrânia afirmou, neste sábado, 12, que o Ocidente caminha para uma "vitória conjunta", após a retirada das tropas russas de Kherson, no sul do país, passados quase nove meses de combates. O hino nacional ucraniano soou em Kherson na sexta-feira, na esteira da retirada das tropas russas da cidade. Esta localidade foi a primeira a cair nas mãos de Moscou, depois da invasão da Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin em fevereiro.
"Muito poucos acreditavam que a Ucrânia sobreviveria", disse o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, em reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em uma cúpula do Sudeste Asiático no Camboja. "Está acontecendo, e nossa vitória será nossa vitória conjunta, uma vitória de todas as nações amantes da paz ao redor do mundo", acrescentou.
Blinken elogiou, por sua vez, a "bravura extraordinária" do Exército e do povo ucraniano e prometeu que o apoio dos Estados Unidos "continuará durante todo tempo que for necessário" para derrotar a Rússia.
Kherson é "nossa", proclamou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, após a retirada das tropas russas, ante a avassaladora contraofensiva ucraniana.
A cerca de 50 quilômetros de Kherson, Andriy Zholob, comandante de uma unidade médica, disse que foram recebidos com sorrisos e flores pela população. "As crianças correm ao nosso encontro e nos cumprimentam", disse Zholob à AFP.
Na região vizinha de Mikolaiv, que os russos não conseguiram capturar apesar de meses de ataques, o governador Vitaliy Kim disse que toda região, exceto Kinburn, no sul, está sob controle ucraniano.
O conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, comemorou a "vitória extraordinária" da Ucrânia. "Este é um grande momento e se deve à incrível tenacidade e capacidade dos ucranianos, apoiados pelo incansável e sólido apoio dos Estados Unidos e dos nossos aliados", declarou.
O ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, disse hoje que Kherson pode levar russos a questionarem a guerra. "A retirada de Kherson anunciada pela Rússia marca um novo fracasso estratégico para eles. Em fevereiro, a Rússia não conseguiu alcançar os principais objetivos que havia estabelecido, fora Kherson", disse Wallace, em um comunicado. 
"Agora, com (esta cidade) também abandonada, as pessoas na Rússia devem se perguntar: 'Para que serve tudo isso?'", acrescentou. Para o ministro, a invasão russa em fevereiro "levou apenas ao isolamento e à humilhação internacional" da Rússia.
O chanceler Kuleba advertiu, contudo, que "a guerra continua" e que Kiev segue vendo que "a Rússia mobiliza mais recrutas e traz mais armas para a Ucrânia" e pediu que o Ocidente mantenha seu apoio.
Em Kherson, as forças de Kiev reconectaram a rede local de televisão às redes ucranianas, depois que os jornais locais informaram que as forças russas explodiram, em sua retirada, a torre de televisão e as instalações elétricas, deixando a área na escuridão. O Ministério russo da Defesa informou que mais de 30.000 soldados russos foram retirados.
Kherson foi o primeiro grande centro urbano tomado após a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro. Sua recaptura total por Kiev significa um golpe político e simbólico para o presidente Vladimir Putin e abre caminho para as forças ucranianas retomarem toda região de Kherson, com acesso ao Mar Negro, a oeste, e ao Mar de Azov, a leste.
Na capital ucraniana, a notícia foi recebida com alegria. Envoltos em bandeiras, abrindo garrafas de champanhe e cantando o hino nacional, os moradores de Kherson instalados na capital nacional, Kiev, reuniram-se na praça de Maidan para comemorar.
"No começo não acreditei. Achei que fosse levar semanas e meses, algumas poucas centenas de metros por vez, e agora vemos que chegaram a Kherson em um dia. É a melhor surpresa", declarou Artem Lukiv, de 41 anos, originário de Kherson, mas radicado em Kiev.
O Kremlin insiste, contudo, em que Kherson continua a fazer parte da Rússia. "É sujeito da Federação Russa. Não há mudanças nisso e não pode haver mudanças", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.
A recaptura total da região por parte da Ucrânia cortaria uma ponte terrestre para a Rússia entre seu território continental e a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Kherson foi uma das quatro regiões ucranianas que Putin disse ter anexado em setembro, prometendo usar todos os meios à sua disposição para defendê-la.
Neste sábado, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu à China que "use todos os meios" para convencer a Rússia a respeitar o Direito Internacional, a poucos dias de uma cúpula do G20 que será dominada pelas consequências do conflito na Ucrânia. 
"Encorajamos as autoridades chinesas a usarem todos os meios à sua disposição para convencer a Rússia a respeitar as fronteiras internacionalmente reconhecidas e a respeitar a soberania da Ucrânia", disse o líder à AFP.