Ataque Turco na SíriaAFP
Turquia prossegue com ataques na Síria, 'determinada' a proteger sua fronteira
Bombardeios atingiram posições curdas no campo de detenção na Síria
A Turquia continua atacando posições de combatentes curdos no norte da Síria e seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, reiterou nesta quarta-feira (23) sua "determinação" de intervir para proteger sua fronteira sul.
"A nossa determinação em proteger todas as nossas fronteiras do sul (...) com uma zona de segurança é hoje mais forte do que nunca", disse o chefe de Estado turco, acrescentando que considera iniciar uma ofensiva terrestre "quando o momento for oportuno".
Os bombardeios turcos atingiram posições curdas no campo de detenção de Al Hol, na Síria, nesta quarta-feira, de acordo com fontes sírias e curdas independentes no local. O campo administrado pelos curdos abriga 50 mil pessoas, incluindo parentes de supostos jihadistas, mas também deslocados sírios e iraquianos.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede em Londres, disse que o bombardeio teve como alvo as posições curdas fora do campo, mas "causou o caos" do lado de dentro.
O governo da Turquia iniciou a Operação Garra-Espada no domingo, intensificando ataques aéreos e disparos de artilharia contra posições do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e das Unidades de Proteção Popular (YPG).
A Turquia acusa esses dois movimentos de terem ordenado o ataque que matou seis pessoas e feriu 81 em 13 de novembro em Istambul. Eles negam as acusações.
"A Turquia tem os meios para procurar e punir terroristas envolvidos em ataques dentro e fora de suas fronteiras", disse Erdogan ao seu grupo do partido AKP na Assembleia.
Até lá, alertou, "vamos continuar as nossas operações aéreas sem interrupção e entraremos no território dos terroristas no momento que considerarmos oportuno".
O chefe de Estado especificou seus objetivos prioritários, citando as cidades sírias de Tal Rifat, Manbij, Ayn al-Arab (Kobane em curdo), com o objetivo de proteger a fronteira sul da Turquia, estabelecendo uma zona de segurança de 30 quilômetros de largura.
A emblemática cidade de Kobane, um reduto curdo das YPG recuperado em 2015 dos extremistas do Estado Islâmico, com o apoio do Ocidente, já foi alvo da artilharia turca na terça-feira.
O OSDH e autoridades curdas relataram a continuidade de ataques com drones nesta quarta-feira em vários pontos da província síria de Hasaka (norte da Síria), incluindo uma refinaria de gás e uma estação de bombeamento de petróleo.
Um combatente curdo foi morto e três ficaram feridos nesta quarta-feira em um ataque de um drone turco contra uma base russa no nordeste da Síria, disse à AFP um oficial das forças curdas.
No campo de Al Hol, após cinco bombardeios contra as forças de segurança interna curdas, o porta-voz das Forças Democráticas Sírias, Farhad Shami, alertou que "algumas famílias do EI podem fugir do campo" aproveitando-se do caos.
Ataques
A artilharia turca também ataca a área da prisão de Jerkin, em Qamishli, onde estão detidos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), segundo ambas as fontes. Segundo o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, os ataques "punitivos" realizados pela Força Aérea e pela artilharia turca atingiram 471 alvos até agora e 254 "terroristas" foram neutralizados.
"Os único alvos das Forças Armadas turcas são os terroristas e as estruturas pertencentes a esses terroristas", disse ele. "Não temos problemas com nenhum grupo étnico ou religioso, nem com nossos irmãos curdos ou árabes", insistiu Akar.
O governo turco, que ameaça atacar as posições do PKK e do YPG desde maio, insiste desde a segunda-feira que deseja continuar suas operações terrestres. Além disso, o chefe de Estado reiterou nesta quarta-feira suas acusações contra os países que lhes deram apoio, referindo-se aos Estados Unidos, mas sem nomeá-los.
"Estas potências, que nos garantiram que não haveria ameaça dessas regiões sob seu controle, não foram capazes de manter sua palavra", denunciou Erdogan. "Portanto, temos o direito de administrar nossos próprios assuntos" na Síria, acrescentou.