A política de 'paz total' se tornou lei em novembro, numa ambiciosa proposta do Petro de dialogar com guerrilhas, traficantes e grupos paramilitaresReprodução/Instagram

Bogotá - O governo da Colômbia confirmou um cessar-fogo de seis meses com os cinco principais grupos armados que operam no país. O anúncio foi feito pelo presidente Gustavo Petro na véspera de Ano Novo.
"Acordamos uma trégua bilateral com o ELN, a Segunda Marquetalia, o Estado-Maior Central, o AGC (Autodefesas Gaitanistas da Colômbia) e as Autodefesas de Sierra Nevada de 1º de janeiro a 30 de junho de 2023, prorrogável segundo os avanços nas negociações", disse o presidente em um tuíte.
A trégua bilateral era o principal objetivo do governo a ser alcançado como parte de sua política de "paz total", com a qual pretende extinguir, por meio do diálogo, o conflito armado que persiste na Colômbia apesar da dissolução da poderosa guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2017.
"Esse cessar-fogo bilateral obriga as organizações armadas e o Estado a respeitá-lo. Haverá um mecanismo de verificação nacional e internacional", acrescentou o presidente, que qualificou o pacto como um "ato audacioso".
A última insurgência reconhecida do país, o Exército de Libertação Nacional (ELN), negocia com o governo desde novembro. Já os grupos Segunda Marquetalia e Estado Mayor Central - que não aderiram ao pacto de paz assinado pelas Farc - mantêm "diálogos exploratórios" em separado com delegados do Petro.
Lideradas no passado pelo "capo" Otoniel, extraditado para os Estados Unidos, as AGC são a maior quadrilha de traficantes do país. Assim como as Autodefesas de Sierra Nevada, são formadas por remanescentes dos paramilitares de extrema direita que se desmobilizaram no início dos anos 2000.
Todos esses grupos somam mais de dez mil homens armados, que disputam a receita gerada pelo tráfico de drogas e por outros negócios ilícitos no maior produtor de cocaína do mundo, conforme dado do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz).
A política de "paz total" se tornou lei em novembro, depois que o Congresso, de maioria governista, apoiou a ambiciosa proposta do Petro de dialogar com guerrilhas, traficantes de drogas e grupos de origem paramilitar, visando a desativar o conflito no país.
O governo oferece um "tratamento benevolente do ponto de vista judicial" para os atores armados, "em troca de uma entrega de bens, de um desmantelamento dessas organizações e da possibilidade de que deixem de exercer essas economias ilícitas", disse à AFP, recentemente, o senador pró-governo Iván Cepeda.
O partido de oposição Centro Democrático, do ex-presidente de direita Álvaro Uribe, qualificou a proposta de "paz total" como "apologia ao crime e à impunidade".
Embora o histórico acordo de 2016 com as Farc tenha transformado a guerrilha mais poderosa do continente em um partido político, o conflito continua depois de seis décadas e de mais de nove milhões de vítimas.
As extintas Farc foram substituídas por uma proliferação de novas organizações, sem espaço para negociação até a chegada de Petro.
Apesar da aproximação com os diferentes grupos armados, Petro ainda não conseguiu conter a espiral de violência que assola o país. O centro de estudos independente Indepaz registrou quase uma centena de massacres em 2022.
 
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