Reprodução de um Leopard-2 finlandês AFP
Polônia quer entregar tanques Leopard para Ucrânia mesmo sem permissão da Alemanha
União Europeia anunciou um pacote de ajuda adicional de 500 milhões de euros para financiar a entrega de armas a Kiev
A Polônia disse, nesta segunda-feira, 23, que pedirá permissão à Alemanha para fornecer à Ucrânia tanques de guerra Leopard de fabricação alemã, mas assinalou que estaria disposta a fornecê-los "mesmo" sem o consentimento de Berlim, para ajudar Kiev a enfrentar a invasão russa.
Nesse contexto, a União Europeia (UE) anunciou um pacote de ajuda adicional de 500 milhões de euros para financiar a entrega de armas a Kiev.
No entanto, apesar de numerosos países estarem prometendo armas à Ucrânia, as autoridades ucranianas reivindicam mais equipamento pesado, especialmente os avançados tanques Leopard, de fabricação alemã.
Depois de vários dias de crescente pressão sobre Berlim, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse no domingo que o governo alemão não faria objeções se Varsóvia pedisse sua autorização para entregar os tanques à Ucrânia.
"Vamos pedir esse acordo", disse nesta segunda-feira à imprensa o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki.
"Mesmo que não consigamos o consentimento deles, daremos nossos tanques à Ucrânia, juntamente com outros países, no âmbito de uma pequena coalizão, mesmo que a Alemanha não faça parte dela", acrescentou o primeiro-ministro.
A Ucrânia criticou a "indecisão global" de seus aliados em fornecer tanques, uma postura que Kiev diz estar "matando mais pessoas".
Neste mês, a Polônia anunciou que estava pronta para enviar 14 tanques Leopard para a Ucrânia, mas que aguardava o sinal verde de Berlim sobre o assunto.
O governo alemão, entretanto, insistia na necessidade de todos os aliados trabalharem juntos.
O porta-voz do chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, reiterou esta ideia nesta segunda-feira, afirmando que o Executivo "não descarta" a entrega de blindados, mas acrescentou: "isso ainda não está decidido."
Atormentada pela culpa do pós-guerra, a Alemanha tenta se manter discreta, agindo silenciosamente no cenário internacional quando se trata de conflitos.
De acordo com a legislação alemã de controle de armas, a Polônia (e qualquer outro país que compre armas dela) precisa da aprovação de Berlim para entregar tanques Leopard à Ucrânia, porque eles foram fabricados na Alemanha.
Essa lei visa evitar que armas fabricadas na Alemanha acabem sendo usadas em zonas de conflito contra os interesses alemães.
No campo de batalha, um líder da ocupação russa do leste da Ucrânia, Denis Pushilin, disse que visitou Soledar, uma cidade no oblast (província) de Donetsk, no leste da Ucrânia, que Moscou alegou ter conquistado no início deste mês.
Pushilin, a principal autoridade da Rússia em Donetsk, disse no domingo à noite que visitou, com o deputado russo Zurab Makiev, a cidade devastada pelos combates.
O dirigente publicou um vídeo nas redes sociais em que os dois homens, armados e com uniforme militar, são vistos chegando de carro a Soledar. A AFP não conseguiu verificar o local onde essas imagens foram feitas.
Segundo afirmam, são os primeiros responsáveis russos a visitar o município, cuja tomada foi anunciada por Moscou em 13 de janeiro como uma importante vitória.
Nesta segunda-feira, Pushilin disse à televisão estatal russa que Soledar foi "rasgada" e que "quase nenhum prédio inteiro foi deixado de pé".
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, a conquista dessa cidade é um passo importante para expulsar as tropas ucranianas de Bakhmut, uma cidade perto de Soledar que tem um grande polo de mineração.
Pushilin observou que os combates em Bakhmut estão "se intensificando" e afirmou que as tropas russas estavam avançando, com membros do grupo mercenário russo Wagner ocupando posições estratégicas perto de Bakhmut. A Ucrânia, por sua vez, não reconheceu oficialmente a perda de Soledar.
No plano diplomático, em mais um sinal das crescentes tensões entre a Rússia e seus vizinhos europeus, a Estônia anunciou nesta segunda-feira que expulsará o embaixador russo em Tallinn, em medida semelhante à adotada horas antes por Moscou, que decidiu expulsar o embaixador estoniano.
Essas medidas chegam depois que a Estônia expulsou cerca de 20 diplomatas russos destacados na embaixada russa em Tallinn.
A Letônia também anunciou hoje que ordenou o embaixador russo a deixar seu território, em solidariedade com a vizinha Estônia.
Por outro lado, a África do Sul, criticada por sua posição de neutralidade por não querer condenar a Rússia desde o início da guerra, reiterou seus vínculos com Moscou ao citar o país eslavo como um "amigo" e "parceiro valioso".