Dina BoluarteReprodução
Presidente do Peru lamenta recusa do Congresso em antecipar eleições
Dina Boluarte pediu que os 'interesses pessoais e partidários sejam postos de lado para 'encontrar uma saída para a crise política' no país
A presidente do Peru, Dina Boluarte, lamentou, neste sábado, 28, a recusa do Congresso em antecipar as eleições para este ano e pediu que os interesses pessoais e partidários sejam postos de lado para 'encontrar uma saída para a crise política' no país, marcada por protestos e bloqueios.
"Lamentamos que o Congresso da República não tenha conseguido chegar a um acordo para definir a data das eleições gerais, nas quais peruanas e peruanos possam escolher livre e democraticamente as novas autoridades", escreveu Boluarte nas redes sociais
"Exortamos as bancadas a deixarem de lado os seus interesses partidários e a priorizarem os interesses do Peru", acrescentou a presidente, em sua primeira reação desde que o Parlamento fracassou na ideia de antecipar as eleições gerais para este ano como ela mesmo havia pedido na última sexta-feira, 27.
Enquanto isso, centenas de manifestantes voltaram a protestar no centro de Lima na tarde deste sábado, entre eles vários artistas como A Orquestra Liberal de Puno, cujos músicos aderiram à convocação da 'Marcha pela renúncia de Dina Boluarte e eleições antecipadas'.
"Sem justiça a paz é uma hipocrisia", dizia um cartaz levado por um grupo de 'palhaços de luto', que desfilaram com música andina ao fundo, e a poucos quarteirões do Concerto pela Paz, outra manifestação contra a violência organizada por grupos civis que apoiam o trabalho das forças de ordem. Em sua maioria, estes manifestantes usavam alguma peça de roupa branca e estenderam uma longa bandeira vermelha e branca, as cores do Peru.
Há sete semanas, o Peru tem sido palco de manifestações pedindo a renúncia de Boluarte, que assumiu a Presidência enquanto vice após a destituição do então chefe de Estado, Pedro Castillo (esquerda), em 7 de dezembro, por ter tentado dissolver o Parlamento.
Os confrontos entre manifestantes e forças de ordem deixaram desde então 47 mortos, entre eles um policial que foi queimado vivo, além de dez civis — entre eles um bebê —, mortos em eventos relacionados com os bloqueios, segundo a Defensoria do Povo.
O sul andino do Peru, onde vivem comunidades quéchuas e aimaras historicamente relegadas, se mantém em pé de guerra exigindo a renúncia de Boluarte e a realização de eleições.
Votação no Congresso
Após uma sessão de mais de sete horas, o Congresso rejeitou, na madrugada deste sábado, a antecipação das eleições gerais para 2023, como havia pedido a presidente Boluarte, diante da piora da situação e em uma tentativa de buscar uma saída para a grave crise que o país atravessa.
A proposta apresentada pelo congressista fujimorista Hernando Guerra García, do partido de direita Força Popular (FP), foi derrotada por 65 votos a 45 e, por isso, está mantido o projeto de celebrar as eleições gerais em abril de 2024.
Boluarte, que enfrenta pedidos de renúncia nos 50 dias de sua gestão, tinha pedido ontem que as eleições fossem adiantadas para dezembro deste ano, como uma forma de sair mais rápido do "atoleiro" provocado pelos bloqueios de estradas, pela escassez de mantimentos e por episódios de violência em diferentes regiões do Peru.
A proposta, inclusive, antecipava as eleições para outubro de forma que a presidente, os congressistas e as autoridades eletivas entregassem o poder em dezembro de 2023.
A esquerda, no entanto, insistiu em que a proposta também deveria incluir um referendo sobre a Assembleia Constituinte, que é rechaçada por um amplo espectro da política peruana. Outros partidos denunciaram uma suposta manobra para tirar proveito eleitoral por parte do Força Popular, legenda da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori.
O projeto votado na madrugada deste sábado será submetido à reconsideração do Congresso na segunda-feira, 30, a pedido do fujimorismo, mas analistas consideram improvável uma reversão do resultado.