Explosão aconteceu durante as orações da tarde Maaz Ali/AFP
O ataque ocorreu durante as orações da tarde na cidade, em uma mesquita no quartel-general da polícia, um centro residencial e de treinamento para policiais. Mais de 300 pessoas estavam no complexo quando um homem-bomba detonou os explosivos, provocando o desabamento do telhado da mesquita. Esse foi considerado um dos piores atentados terroristas contra as forças de segurança do Paquistão.
Após mais de 20 horas de operações de resgate, as forças continuam removendo os escombros do local, onde pode haver ainda mais corpos. "Não podemos usar máquinas pesadas porque temos que levar em conta a santidade de qualquer mártir ou ferido que possa estar sob os escombros", disse o porta-voz dos serviços de resgate de Peshawar, Bilal Faizi.
As forças de segurança realizaram serviços funerários na segunda-feira para 27 dos policiais mortos no ataque, dispensados com honras pela polícia de Peshawar, em caixões cobertos com a bandeira paquistanesa e coroas de flores.
Sobre os mandantes do ataque, embora uma mensagem em uma conta nas redes sociais ligada ao comandante talibã paquistanês Mohmand reivindique a responsabilidade, as autoridades não confirmaram a veracidade da conta. Além disso, o Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), principal grupo talibã do país, negou seu envolvimento no ataque a um espaço sagrado, ação que seria contra as regras do grupo terrorista.
O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Asim Munir, visitaram Peshawar após o ataque para acolher os feridos e revisar no local a situação de segurança na região, que registrou um aumento nos ataques no último ano.
"A magnitude da tragédia humana é inimaginável. Este é um ataque ao Paquistão. A nação está sobrecarregada com o profundo sentimento de luto", lamentou o primeiro-ministro em uma rede social após a visita. "Não tenho dúvidas de que o terrorismo é nosso principal desafio de segurança nacional", acrescentou.
Aumento de ataques terroristas
Em março de 2022, um ataque suicida em Peshawar foi reivindicado pelo Estado Islâmico do Khorasan, ou Isis-K, na sigla em inglês, deixando 64 mortos, o mais letal em solo paquistanês desde 2018. O grupo não assumiu a autoria do incidente mais recente.
O Isis-K surgiu em 2014, durante os 20 anos de invasão dos Estados Unidos e de seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que começou nas semanas seguintes aos ataques de 11 de Setembro de 2001 nos EUA.
Washington acusava o Taleban, à época à frente de Cabul, de abrigar Osama bin Laden, o chefe da Al-Qaeda e cérebro por trás dos maiores atentados terroristas da História americana. Ele, contudo, só seria morto dez anos depois, em maio de 2011, em Abbottabad, no Paquistão, a cerca de 200 km de Peshawar.
A invasão chegou ao fim com uma retirada caótica em agosto de 2021 que coincidiu com o retorno do Taleban ao poder após uma ofensiva relâmpago, piorando a drástica situação humanitária e econômica deixada pelas duas décadas de ocupação. O Isis-K, contudo, também é inimigo dos talibã, e faz com frequência ataques terroristas em território afegão.
O Paquistão também enfrenta uma deterioração da situação de segurança desde a mudança no país vizinho. Após vários anos de calma relativa, o país voltou a ver ataques frequentes do ramo paquistanês dos talibã, o Tehreek-e-Taleban Paquistão, do Isis-K e de grupos separatistas do Baluquistão, região no Planalto Iraniano que compreende partes do Irã, do Afeganistão e do Paquistão.
A relação do Paquistão com Cabul é marcada por demandas para que o Taleban e grupos adjacentes parem de usar seu território para planejar ataques. As autoridades talibã, contudo, negam que isso ocorra.
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