Presidente da Venezuela, Nicolás MaduroFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
De um lado, estariam os "reformistas", que defendem uma liberalização da economia e regras mais flexíveis no mercado cambial. O principal expoente desse grupo é Delcy Rodríguez, vice-presidente e ministra da Economia.
Chavistas
"A renúncia de Aissami é a ultima e maior evidência dessa disputa interna de poder no chavismo", diz Geoff Ramsey, especialista em Colômbia e Venezuela do Atlantic Council. "Ele é o responsável pela estratégia de evasão das sanções americanas. É alguém que tem muitos esqueletos no armário. Se ele for preso, isso pode ter consequências sérias para a estrutura de poder na Venezuela."
Acusado de narcotráfico pelos EUA, que ofereceram US$ 10 milhões por sua captura, Aissami ganhou o favoritismo de Maduro após o governo Donald Trump impor pesadas sanções econômicas à venda do petróleo venezuelano, para pressionar pelo fim do regime.
Diante das sanções, a PDVSA, comandada pelo ministro de Energia, teve de buscar intermediários em outros países não só para exportar esse petróleo como para comprar bens e alimentos que se tornaram escassos pela ausência de dólares. De origem síria, Aissami intermediou contatos no Irã e na Turquia.
Foram esses contratos que entraram na mira de Delcy Rodríguez. Segundo a Bloomberg, uma auditoria interna descobriu um rombo financeiro na estatal petrolífera de US$ 21,2 bilhões. Os pagamentos desaparecidos datam, na maioria, do período entre 2020 e 2022, quando a Venezuela buscou novos intermediários para ajudar a contornar as sanções dos EUA e vender seu petróleo
Em janeiro, a ministra nomeou um tecnocrata do setor petroquímico, Pedro Tellechea, como diretor da PDVSA. Ele suspendeu contratos existentes e, segundo a Bloomberg, Rodríguez se tornou a responsável pela aprovação de todos os novos empreendimentos da estatal. Esse controle sobre as finanças da PDVSA provocou tensão entre Aissami e Rodríguez, que abriu a investigação sobre acusações de corrupção dentro da PDVSA. O ministro da Energia, então, decidiu renunciar.
Posição
"A corrupção na PDVSA atinge 1/3 da venda do petróleo, mas as investigações são seletivas e servem para expurgar rivais políticos", disse Francisco Monaldi, da Universidade de Rice, ao Financial Times.
Eleições
A redução da oferta de energia provocada pela guerra na Ucrânia fez com que EUA e União Europeia voltassem a procurar os chavistas para negócios. No ano passado, a Chevron voltou a operar na Venezuela e o regime libertou americanos que estavam presos havia anos no país.
A Casa Branca quer sinais concretos de que eleições justas com a participação da oposição ocorrerão no ano que vem e as recentes mudanças políticas em vizinhos sul-americanos também indicam que Maduro pode sair do isolamento.
"Os chavistas sempre se uniram, mesmo diante de rivalidades terríveis, mas isso claramente mudou", pondera José Toro Hardy, especialista venezuelano em petróleo. "A oposição deve aproveitar isso e olhar a briga se desenrolar de longe."
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