A Justiça informou que Jack Teixeira foi preso por suposta extração, retenção e transmissão de informações confidenciais de defesa nacionalAFP

Boston - Suspeito de orquestrar um dos maiores vazamentos de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos nos últimos dez anos, o militar Jack Teixeira, de 21 anos, se apresenta à Justiça nesta sexta-feira, 14, um dia após a prisão efetuada pelo FBI.
Membro da Guarda Nacional da Força Aérea americana, comparecerá pela primeira vez a um tribunal federal de Massachusetts. Transmitida ao vivo pelas emissoras de televisão, a prisão foi o ponto culminante de uma investigação de uma semana, alimentada pela cobertura frenética da imprensa sobre um dos vazamentos mais prejudiciais de informações confidenciais desde que Edward Snowden revelou milhares de documentos da Agência de Segurança Nacional em 2013.
O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, disse que Teixeira foi preso "em conexão com uma investigação sobre a suposta extração, retenção e transmissão não autorizada de informações confidenciais de defesa nacional".
Imagens da operação em North Dighton, no estado de Massachusetts, mostraram o suspeito, de bermuda vermelha e camiseta, com as mãos atrás da cabeça, recuando lentamente em direção aos agentes fortemente armados e camuflados, que o prenderam.
A Guarda Nacional americana informou que Teixeira se alistou em setembro de 2019 e é um especialista em tecnologia da informação e comunicação que alcançou o posto de aviador de 1ª classe, o terceiro mais baixo para membros da Força Aérea.
Em um comunicado, o Secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, elogiou o Departamento de Justiça e o FBI pela "rápida prisão" do suspeito.
Austin acrescentou que ordenou uma revisão dos "procedimentos de acesso, responsabilidade e controle de inteligência dentro do departamento (de Defesa) para informar nossos esforços para evitar que esse tipo de incidente aconteça novamente".
A prisão de Teixeira acontece um dia após o The Washington Post informar que um homem que trabalhava em uma base militar americana havia publicado centenas de páginas de documentos na plataforma de bate-papo online Discord.
- Documentos secretos -
Segundo o The New York Times, um "rastro de evidência digital" indicava Teixeira como o administrador de um grupo de chat privado chamado Thug Shaker Central, no Discord.
Os documentos vazados revelaram preocupação sobre a viabilidade de uma próxima contraofensiva das forças de Kiev contra as tropas russas, assim como sobre as defesas aéreas ucranianas, e deram sinais de que os Estados Unidos estariam espionando aliados como Israel e Coreia do Sul.
O presidente dos EUA, Joe Biden, comentou os vazamentos durante uma visita à Irlanda e se disse "preocupado".
O suspeito, que se identificava como "OG" no Discord, publicava regularmente documentos no grupo de bate-papo há meses, de acordo com a imprensa.
O grupo de cerca de 24 pessoas, inclusive da Rússia e Ucrânia, se uniu por sua "paixão mútua por armas, equipamento militar e Deus" e formou um "clube no Discord apenas para convidados em 2020", destacou o Post, que, assim como o The New York Times, citou membros não identificados do Thug Shaker Central.
"OG" disse aos membros do grupo que passava parte do dia "dentro de uma instalação segura que proibia os telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos", segundo o Post.
Primeiro transcreveu o conteúdo dos documentos classificados para compartilhar com o grupo, mas logo começou a tirar fotos e pedir aos demais membros que não as compartilhassem, destacou o periódico.
"OG" tinha uma "visão sombria do governo" e "falava dos Estados Unidos, e particularmente das forças de ordem e do serviço de inteligência, como forças sinistras que tentavam reprimir os cidadãos e mantê-los na escuridão", acrescentou o Post, citando um dos membros do grupo.
Um porta-voz do Discord disse à AFP que a segurança dos usuários é uma prioridade e que conteúdos que violam suas políticas podem acarretar usuários banidos, servidores interrompidos e alertas à polícia.
"Em relação à aparente violação de material confidencial, estamos cooperando com as forças de ordem", disse o porta-voz, recusando-se a dar mais detalhes.