Manifestantes madrugaram para protestar em frente ao prédio do Conselho Constitucional da FrançaAFP

Paris - O Conselho Constitucional da França se pronunciará nesta sexta-feira, 14, sobre a validade da criticada reforma da Previdência defendida pelo presidente Emmanuel Macron. A aguardada decisão marcará o futuro de um conflito social após três meses de grandes protestos e manifestações.
Na tarde desta sexta, a instituição responsável por fiscalizar a aplicação da Constituição na França também deve anunciar se aprova um pedido de referendo da oposição para limitar a idade de aposentadoria aos atuais 62 anos, que Macron deseja elevar para 64 a partir de 2030.
"Constitucional ou não, não queremos esta lei!", gritavam centenas de jovens nesta sexta-feira durante uma manifestação em Paris horas antes. "Não tenho ilusões sobre a decisão", disse Camille Michel, uma estudante de 24 anos.
Símbolo da tensão que impera no país, dezenas de integrantes das forças de segurança estabeleceram barreiras diante da sede do Conselho Constitucional, que fica perto do Museu do Louvre e onde as manifestações foram proibidas. Os nove integrantes da instituição também receberam proteção.
A decisão do Conselho não é fácil. Validar o aumento da idade de aposentadoria e a exigência de contribuição por 43 anos, e não 42 como atualmente, a partir de 2027 para o direito a uma pensão integral poderia, de acordo com os críticos da reforma, alimentar a "crise democrática" que a França vive.
Em Hanches, a 60 quilômetros de Paris, os manifestantes interromperam uma visita da primeira-ministra Élisabeth Borne a um supermercado aos gritos de "não queremos aposentadoria aos 64 anos".
"O país não vai virar a página de uma reforma injusta, se for validada", alertou a deputada de esquerda Mathilde Panot. "Isto não encerra o debate, como afirma o governo", disse o deputado de extrema direita Sébastien Chenu.
Apesar da rejeição dos sindicatos e da maioria dos franceses, segundo as pesquisas, Macron decidiu em 16 de março adotar a reforma por decreto, diante do temor de uma derrota no Parlamento, onde o governo não tem maioria absoluta.
Mas anular uma lei que, segundo o governo, busca evitar um futuro déficit no sistema previdenciário, seria um revés para o presidente liberal, que arrisca nesta disputa a possibilidade de aplicar seu programa reformista no segundo mandato, que vai até 2027.
"Manter o rumo, esse é o meu lema", disse Macron nesta sexta-feira durante uma visita às obras de restauração da catedral de Notre-Dame, em Paris.
O presidente propôs uma reunião na terça-feira aos sindicatos, "independentemente da decisão do Conselho", anunciou a Presidência.
Horas antes, a líder da CGT, Sophie Binnet, pediu novamente que Macron revogue a reforma. Os analisas consideram que a opção mais provável é que o Conselho Constitucional anule dispositivos secundários da reforma, sem alterar as principais medidas da lei, o que permitiria o governo sair vitorioso do teste crucial.