Navio russo em ação no mar negro nesta sexta-feira, 21Reprodução/Ministério da Defesa russo

A Rússia anunciou nesta sexta-feira, 21, que realizou exercícios militares com disparos de mísseis no Mar Negro, palco de crescentes tensões com a Ucrânia e seus aliados após o término de um acordo de exportação de grãos crucial para o abastecimento mundial de alimentos.
As forças de Moscou também bombardearam o porto de Odessa, no sul da Ucrânia e as margens do Mar Negro, pela quarta noite consecutiva, atingindo silos de grãos, segundo as autoridades.
Após encerrar, na última segunda-feira, 17, o acordo que facilitava a exportação de cereais dos portos ucranianos do Mar Negro, a Rússia tem realizado ataques contra os armazéns de grãos e importantes infraestruturas nos portos da região, especialmente em Odessa e Mikolaiv.
"Os russos atacaram Odessa com mísseis de cruzeiro Kalibr a partir do Mar Negro", afirmou o governador regional, Oleg Kiper. De acordo com ele, as forças de Moscou "destruíram 100 toneladas de ervilhas e 20 toneladas de cevada", além de ferirem duas pessoas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que esses ataques estão tendo um "efeito negativo nos preços mundiais do trigo e do milho, prejudicando a todos, mas sobretudo as pessoas vulneráveis do sul do mundo".
Por sua vez, o Ministério da Defesa russo indicou que a Frota do Mar Negro "realizou disparos reais de mísseis de cruzeiro antinavios contra um navio usado como alvo no campo de treinamento de combate no noroeste do Mar Negro". A embarcação "foi destruída como resultado do impacto do míssil".
Navios e aviões do exército treinaram "ações para isolar a área temporariamente fechada à navegação e também realizaram um conjunto de medidas para deter o navio atacante", acrescentou. Além disso, as forças navais da Rússia e da China conduziram exercícios conjuntos no Mar do Japão.
Na quarta-feira, 19, o Kremlin advertiu que consideraria os cargueiros com destino à Ucrânia como possíveis alvos militares. Também anunciou o fechamento do tráfego em partes do noroeste e sudeste deste mar, que banha os dois países em guerra.
Em uma mensagem semelhante, a Ucrânia anunciou a proibição da navegação "na parte nordeste do Mar Negro e no Estreito de Kerch", perto da península da Crimeia. Após o fim do acordo, Kiev disse estar preparado para continuar exportando grãos por via marítima e pediu à ONU e aos países vizinhos que estabeleçam um corredor seguro para a navegação.
No front, as forças ucranianas começaram a usar as bombas de fragmentação fornecidas pelos Estados Unidos para tentar acelerar a lenta contraofensiva lançada por Kiev há um mês, afirmou a Casa Branca.
Os Estados Unidos entregaram recentemente, pela primeira vez, essas controversas armas a Kiev, que dispersam centenas de pequenos explosivos e são proibidas em vários países devido à ameaça que representam para civis.
As tropas ucranianas começaram a utilizá-las "na semana passada ou algo assim", disse na quinta-feira o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby. "Eles estão usando-as adequadamente, de forma eficaz, e estão impactando as formações e as manobras defensivas da Rússia", garantiu.
Desde junho, Kiev tem tentado recuperar grandes partes do território no sul e leste da Ucrânia, ainda ocupadas pela Rússia, mas a contraofensiva parece estar paralisada em longas seções da linha de frente.
Um alto assessor da presidência ucraniana reconheceu à AFP que esta operação será "longa e difícil".Por sua vez, o presidente Vladimir Putin disse nesta sexta-feira que a contraofensiva ucraniana não trouxe "nenhum resultado" até o momento e que os "colossais recursos" em armas fornecidos à Ucrânia por seus aliados ocidentais não estão surtindo efeito.
Putin também alertou que Moscou usará "todos os meios" à sua disposição para proteger Belarus, seu aliado, de possíveis ataques. "Uma agressão contra Belarus será considerada uma agressão contra a Federação da Rússia", declarou durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, transmitida pela televisão.
No campo diplomático, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky destituiu seu embaixador no Reino Unido, Vadym Prystaiko, que algumas semanas atrás criticou seu "sarcasmo" ao reagir a declarações do ministro da Defesa britânico, Ben Wallace.