Papa Francisco denunciou 'a privação de liberdade" a que são submetidos os sacerdotes católicos na NicaráguaAndreas Solaro/AFP
O sacerdote Gustavo Sandino, pároco em Santa María de Pantasma, no Departamento de Jinotega, foi detido no último dia de 2023, segundo meios de comunicação que trabalham a partir do exílio na Costa Rica e uma lista da advogada especialista em temas da Igreja, Martha Molina, exilada nos Estados Unidos.
Esta onda de prisões começou com a detenção do bispo de Siuna, Isidoro Mora, em 20 de dezembro, que depois foi seguida pelas de sacerdotes de igrejas e paróquias de Manágua, León, Matagalpa, Masaya, além de Jinotega, segundo veículos de imprensa e ativistas opositores.
Após a tradicional oração do Angelus na Praça de São Pedro do Vaticano, o Papa disse nesta segunda-feira que acompanha "com profunda preocupação o que está acontecendo na Nicarágua, onde bispos e sacerdotes têm sido privados de sua liberdade". "Expresso a eles, a suas famílias e a toda a Igreja do país minha proximidade em oração", disse o pontífice.
"À oração insistente também convido todos vocês aqui presentes e todo o Povo de Deus, enquanto espero que se busque sempre o caminho do diálogo para superar as dificuldades. Rezemos hoje pela Nicarágua", acrescentou.
Nem o governo de Daniel Ortega nem a polícia se pronunciaram sobre as denúncias de prisões. Em contrapartida, o site governamental El 19 Digital destacou nesta segunda uma vigília de fim de ano de milhares de evangélicos, no sudeste de Manágua, com apoio da polícia e da prefeitura da capital.
As prisões ocorrem em plena tensão entre o governo Ortega e a Igreja Católica, cuja relação se deteriorou durante os protestos antigovernamentais de 2018, que deixaram mais de 300 mortos, centenas de opositores detidos e milhares de exilados.
Apoio internacional mais 'enérgico'
"Fazemos um apelo enérgico a toda a comunidade internacional para que, de uma vez por todas, cumpra com sua responsabilidade de proteger os Direitos Humanos" na Nicarágua, indicaram as organizações opositoras.
"Que retire todo o apoio econômico e político que ainda mantém para a ditadura Ortega-Murillo e que encontremos logo, junto com nossas organizações, caminhos concretos para a transição à democracia uma vez que se consiga a saída deste regime", acrescentaram.
Com o monsenhor Mora, já são dois bispos na prisão. Rolando Álvarez, a voz eclesiástica mais crítica do governo, foi detido em agosto de 2022 e condenado em 10 de fevereiro a 26 anos, acusado de traição à pátria. Ele preferiu a prisão ao exílio.
Silêncio e desterro
"O roteiro é eliminar todas as formas de oposição e, ao mesmo tempo, destruir toda forma de liberdade de expressão, portanto o desterro pode ser uma metodologia que venham utilizar, já usaram uma vez", frisou Orozco.
As detenções buscam "silenciar e exterminar a Igreja Católica", comentou à AFP a pesquisadora Molina. "Daniel e sua mulher estão instaurando uma ditadura dinástica e não querem ninguém que se oponha", acrescentou.
Desde 2018, houve 740 ataques contra a Igreja e 176 sacerdotes e religiosas foram expulsos, desterrados ou proibidos de entrar no país. Além disso, organizações vinculadas à Igreja foram fechadas, entre elas a jesuíta Universidade Centro-Americana (UCA).
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