Principais partidos de Taiwan disputam eleição com campanhas voltadas a relação com o governo chinêsSam Yeh / AFP
Taiwan, um país de 23 milhões de habitantes com um sistema político democrático, está separado por um estreito de 180 quilômetros de largura da China continental, governada pelo Partido Comunista, que afirma que a ilha faz parte do seu território. O presidente chinês, Xi Jinping, nunca renunciou ao uso da força para recuperar o controle sobre Taiwan, uma ameaça que pairou sobre toda a campanha eleitoral.
O candidato favorito Lai Ching-te, atual vice-presidente do governo do Partido Progressista Democrático (PPD) e defensor da soberania da ilha, pediu aos eleitores que "escolhessem o caminho certo" para manter a força da sua democracia.
O seu principal adversário, o ex-chefe da polícia e presidente da Câmara Hou Yu-ih, considera Lai um perigo para as relações com Pequim e garante que o Kuomintang (KMT), o seu partido, é o único capaz de manter a paz com a China.
Em terceiro lugar, Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan (PPT), apresenta-se como uma alternativa aos dois principais partidos.
Embora questões sociais como salários e moradia tenham sido levantadas durante a campanha, o ponto central foi a questão da China. Os nacionalistas impuseram uma autocracia nesta ilha, para onde fugiram em 1949 depois de serem derrotados pelos comunistas na guerra civil chinesa. Mas na década de 1990, a democracia floresceu.
"Queremos apenas manter o nosso estilo de vida e os nossos princípios", disse Chen, um homem de 65 anos, em um recente comício do PPD no sul de Taiwan.
Escalada
"Todas estas ameaças refletem o desejo de Pequim de avançar para a 'reunificação'", disse à AFP Françoise Mengin, especialista em China da Universidade Sciences Po, em Paris.
Nesta mesma quinta-feira, a China disse que uma vitória de Lai nas eleições é um "grave perigo" e o acusou de "instigar conflitos em ambos os lados do estreito".
"Pequim deve parar de se intrometer nas eleições de outros países e celebrar as suas próprias", respondeu o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu.
Durante os dois mandatos da atual presidente, Tsai Ing-wen, do mesmo partido de Lai, a China redobrou a pressão diplomática, econômica e militar na ilha e cortou as comunicações de alto nível com Taipei.
"Um aumento nas tensões (…) poderia levar a um conflito direto entre as duas grandes potências: os Estados Unidos e a China", disse Ivy Kwek, da organização International Crisis Group.
A escalada da tensão começou antes das eleições, com o anúncio de que os Estados Unidos enviariam uma delegação "não oficial" à ilha após as eleições.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, instou Washington a "se abster de intervir nas eleições na região de Taiwan, de qualquer forma, para evitar prejudicar seriamente as relações sino-americanas".
Cada um com a sua vida
As demonstrações de força da China também afetaram os sentimentos dos taiwaneses em relação ao continente. Atualmente, menos de 3% da população se considera chinesa, um declínio acentuado em relação aos 25% que se definiam como chineses em 1992.
A repressão da China na cidade de Hong Kong ou a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 agravaram os temores dos taiwaneses.
"A melhor coisa (…) é simplesmente manter o status quo para a tranquilidade de todos", diz Huang Shi-Chang, um ativista do KMT, de 67 anos. "Deixe o Partido Comunista Chinês viver a sua vida e nós viveremos a nossa", afirmou.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.