Soldados israelenses na Faixa de Gaza AFP

O Exército israelense bombardeou, nesta quarta-feira (24), a principal cidade do sul de Gaza, Khan Yunis, e ordenou a evacuação de alguns setores desta cidade, onde acredita que os líderes locais do Hamas se escondem.

Apesar das negociações "sérias" para estabelecer uma trégua com o movimento islamista, Israel mantém a sua ofensiva contra esta cidade, que anunciou ter sido "cercado" na véspera.

Testemunhas relataram disparos de helicópteros militares israelenses e a ONU registrou uma "escalada" da violência em Khan Yunis. Esta organização indicou ainda que as forças israelenses ordenaram a evacuação de setores desta cidade onde vivem atualmente "88 mil habitantes e cerca de 425 mil pessoas deslocadas" pela guerra.

A equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) lamentou nesta quarta-feira uma situação "catastrófica e indescritível" nos hospitais desta cidade.

Luto em Israel 
O Exército israelense anunciou, na terça-feira, a morte de 21 reservistas na região de Khan Yunis quando foram surpreendidos, no dia anterior, por um foguete antitanque enquanto colocavam explosivos em dois edifícios para demoli-los.

Com a morte de outros três soldados em um incidente separado, Israel sofreu o pior número de perdas diárias entre as suas tropas desde o início da ofensiva terrestre em Gaza, no final de outubro.

Mais de 200 pessoas compareceram ao funeral em Jerusalém de um dos soldados, Hadar Kapeluk, cujo caixão estava coberto pela bandeira azul e branca de Israel.

"Neste dia, nesta guerra, todos queremos unir-nos como um só coração", declarou Ariel Chen, morador da cidade, que compareceu à cerimônia.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do Hamas a Israel, que matou mais de 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Cerca de 250 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza. Cem pessoas foram libertadas durante uma trégua em novembro, mas pelo menos 132 reféns ainda estão naquele território, dos quais 28 teriam morrido.

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, no poder em Gaza desde 2007, e lançou uma vasta operação militar que deixou 25.700 palestinos mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o novo balanço do Ministério da Saúde do movimento islamista divulgado nesta quarta-feira.

Discussões 
Uma delegação do Hamas, cujos líderes políticos estão no Catar, chegou ao Cairo na terça-feira para "discutir (…) uma nova proposta de cessar-fogo", disse uma fonte próxima às negociações.

O enviado do presidente dos EUA, Brett McGurk, também está na capital egípcia para discutir uma "pausa" nas hostilidades e a libertação dos reféns, segundo Washington.

"Não posso dizer se e quando poderemos fazer isso, mas as negociações são muito sóbrias e sérias sobre a tentativa de implementar outro acordo de reféns", disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.

Segundo o site americano Axios, Israel propôs ao Hamas, com a mediação do Catar e do Egito, uma pausa de dois meses nos combates e bombardeios em Gaza em troca da libertação de todos os reféns.

Kirby não quis especificar a duração que esta "pausa" poderia ter, mas considerou "possível" que as negociações "levem a consequências mais amplas para o conflito".

Inaceitável
Até agora, o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se opôs a "um cessar-fogo" e à criação a longo prazo de um Estado palestino independente que coexista com Israel.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ao Conselho de Segurança na terça-feira que a rejeição do governo israelense à solução de dois Estados é "inaceitável" e corre o risco de "prolongar o conflito".

A guerra agrava as tensões entre Israel e os seus parceiros, como os Estados Unidos, e também com o Irã e seus aliados, como o movimento libanês Hezbollah, os huthis do Iêmen e as milícias iraquianas.

Na manhã desta quarta-feira, os Estados Unidos assumiram a responsabilidade pelos ataques no Iraque contra posições controladas por grupos armados pró-iranianos em "resposta" a uma série de ações de "milícias patrocinadas" por Teerã contra as suas tropas no país.

Washington também relatou novos ataques no Iêmen contra rebeldes huthis que ameaçam o comércio marítimo no Mar Vermelho e no Golfo de Aden "em solidariedade" com Gaza.