Israel deve fazer tudo o que puder para "impedir a prática de todos os atos dentro do âmbito de aplicação" da convenção para a prevenção e punição do crime de genocídio, declarou a Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia e que atua como corpo jurídico da ONU.
A corte exige que Israel puna qualquer um que estimule, conspire ou cometa atos de genocídios. O CIJ também pede que o governo israelense colete provas, assim como permita que outros o façam, a fim de que qualquer sinal de genocídio seja devidamente preservado e iniba quem deseje destruí-las, includindo a própria força armada.
Por fim, o documento pontua que Israel deve cumprir as obrigações de reparação no interesse das vítimas palestinas, incluindo permitir o retorno seguro e digno de pessoas forçadas, deslocadas e/ou raptadas para as suas casas, garantir a integridade física e moral de acordo com os direitos humanos e prever a reconstrução das zonas destruídas em Gaza.
O tribunal também exigiu a "libertação imediata e sem condições" de todos os reféns israelenses em Gaza
Antes de ler as disposições, a presidente do tribunal, Joan Donoghue, citou declarações de responsáveis israelenses, como o ministro da Defesa, Yoav Gallant, que ordenou um "cerco total" à Faixa de Gaza em 9 de outubro e disse então que as suas forças estavam "lutando contra animais".
Por enquanto, a CIJ não se pronunciou sobre a questão subjacente de saber se as operações israelenses em Gaza se enquadram no conceito jurídico de genocídio, um debate que pode levar anos. O caso seguirá em análise e não será arquivado, como pediu a defesa de Israel. Vale lembrar que as decisões não cabem recurso, mas a corte não tem meios de obrigar os paises a acatarem as decisões, como quando ordenou à Rússia que parasse as operações na Ucrânia, sem sucesso.
A decisão é uma resposta parcial ao pedido da África do Sul em 29 de dezembro do ano passado. As autoridades sul-africanas requisitaram ao CIJ a instauração do processo contra de Israel sobre alegadas violações na Faixa de Gaza das obrigações decorrentes da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, assinada em 1948, após o Holocausto.
Esta é apenas a quarta vez que um país leva um caso de genocídio a Corte Internacional de Justiça (CIJ), criada em 1945 junto a ONU, mas é a terceira nos últimos quatro anos. Esses casos foram contra Mianmar por alegado genocídio contra a minoria Rohingya, contra a Rússia pela invasão da Ucrânia em 2022.
Os países que mais apoiaram o caso perante a CIJ foram aqueles de maioria muçulmana, incluindo Irã, Turquia, Jordânia, Paquistão, Bangladesh, Malásia e Maldivas. Na América Latina, Brasil, Colômbia, Bolívia e Venezuela apoiaram a iniciativa.
'Nenhum estado está acima da lei'
O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, considerou a decisão um "avanço importante que contribui para isolar Israel e expor seus crimes em Gaza", segundo um comunicado. E a Autoridade Palestina viu a decisão como uma demonstração de que "nenhum Estado está acima da lei".
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, igualou a decisão do tribunal a um "triunfo da Humanidade" e sublinhou que "o que se impõe é um cessar-fogo para a libertação integral dos reféns de ambos os lados". O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, também saudaram a decisão.
Triunfo de la Humanidad: ISARAEL DEBE IMPEDIR EL GENOCIDIO.
Lo que se impone es un cese al fuego para la liberación integral de los rehenes en ambas partes.
FALLO DE LA CORTE CONTRA ISRAEL Y A FAVOR DE SUDÁFRICA
1. Israel deberá tomar todas las medidas para impedir…
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, observou que "a acusação de genocídio apresentada contra Israel não é apenas falsa, é escandalosa". Segundo o mandatário, o país mantém um compromisso inabalável com o direito internacional, mas, ao mesmo tempo, tem o direito de defender o próprio território e que a guerra é contra o Hamas e não com os civis palestinos.
"Continuaremos a facilitar a assistência humanitária e a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para manter os civis fora de perigo, mesmo que o Hamas utilize os civis como escudos humanos. Continuaremos a fazer o que for necessário para defender o nosso país e defender o nosso povo", escreveu Netanyahu nas redes sociais.
Israel's commitment to international law is unwavering. Equally unwavering is our sacred commitment to continue to defend our country and defend our people.
Like every country, Israel has an inherent right to defend itself.
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