Romulo RouxAFP
"Não, não vou me envolver nisso", respondeu categoricamente à pergunta da AFP sobre se concederia passagem segura a Martinelli para deixar a legação diplomática com destino a Manágua.
A situação de Martinelli, condenado a quase 11 anos de prisão por lavagem de dinheiro, é um dos assuntos mais polêmicos que o próximo governo terá de enfrentar a partir de 1º de julho.
Martinelli, sob mandado de prisão, refugiou-se na embaixada da Nicarágua há dois meses. O presidente Daniel Ortega concedeu-lhe asilo, mas o governo panamenho negou-lhe o salvo-conduto.
"Esta é uma questão que a Justiça irá tratar, como (eventual) presidente da República não vou intervir", insistiu Roux durante um evento eleitoral na Cidade do Panamá no final da tarde de sexta-feira.
Roux, candidato de uma coalizão de direita liderada pelo seu partido Mudança Democrática e pelo Partido Panamenhista, estava prestes a vencer as eleições em 2019, liderado por Martinelli.
Mas a relação deteriorou-se a tal ponto que Martinelli deixou a Mudança Democrática , fundada por ele, e criou um novo partido, o Realizando Metas (RM).
Desmantelar a corrupção
Segundo uma pesquisa de 3 de abril, ele ocupa o terceiro lugar nas preferências eleitorais com 10,5%, abaixo do direitista José Raúl Mulino (29,4%), pupilo de Martinelli, e do ex-presidente (2004-2009) social-democrata Martín Torrijos ( 11,6%).
Entre suas principais promessas está a mudança da Constituição para enfrentar a corrupção e reformar o Estado.
"Nos primeiros 30 dias vamos iniciar um processo de reforma constitucional para desmantelar um sistema político que hoje protege a impunidade e a corrupção", disse Roux.
Mas as principais preocupações dos panamenhos, segundo as pesquisas, são o desemprego, o custo de vida, o acesso à água potável, a insegurança e as deficiências na Seguridade Social.
Roux promete criar meio milhão de empregos; aumentar a aposentadoria mínima para 350 dólares por mês; reativar a economia; um plano de austeridade e construir uma ferrovia da capital até a província ocidental de Chiriquí, na fronteira com a Costa Rica.
Colômbia e Venezuela "não fazem nada"
Rodeado de apoiadores, Roux afirmou que se ganhar a Presidência assumirá o "controle" da crise migratória, pela qual culpa os governos de Gustavo Petro e Nicolás Maduro.
"A Colômbia não está fazendo absolutamente nada, a Venezuela não se importa com o que acontece com as pessoas que saem de lá", enfatizou.
Mais de 520 mil pessoas, a maioria venezuelanos, cruzaram a inóspita selva de Darién em 2023, na fronteira entre a Colômbia e o Panamá, a caminho dos Estados Unidos. Este ano já são mais de 120 mil.
Diante desta onda, o governo panamenho construiu, com o apoio de organizações internacionais, vários acampamentos com serviços básicos para migrantes.
"Neste momento, o Panamá está assumindo todos os riscos, todos os custos, não só econômicos, mas ambientais e sociais, do que tem sido esta migração ilegal através da fronteira", disse Roux.
"Vamos continuar trabalhando de mãos dadas com o governo americano, mas é justo que esta questão seja tratada multilateralmente, não que o Panamá tenha que arcar com tudo", acrescentou.
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