Marinheiros franceses patrulham regiões da Nova Caledônia após protestosDelphine Mayeur / AFP

As autoridades francesas reconheceram, nesta sexta-feira (17), que não controlam algumas regiões de seu território da Nova Caledônia e esperam reverter a situação com a chegada de reforços a esse arquipélago do Pacífico, palco de enormes distúrbios.
Os protestos eclodiram na segunda-feira (13) em resposta a uma reforma do censo eleitoral promovida pelo governo francês que, segundo os líderes do povo indígena kanak, diluirá sua influência nas instituições desse território.
Os distúrbios, com saques, incêndios e tiroteios, deixaram cinco mortos, 200 milhões de euros (1,1 bilhão de reais) de prejuízo, segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, e levaram o governo francês a decretar estado de emergência e a mobilizar tropas.
Essas medidas permitiram "tornar a situação mais tranquila e pacífica" na capital Noumea e seus arredores, reconheceu o representante do Estado francês no arquipélago, Louis Le Franc.
A chegada de mil agentes de segurança durante a noite, somando-se aos mais de 1.700 já presentes, deve ajudar a “controlar as áreas que nos escaparam nos últimos dias, cujo controle não está garantido”, disse ele.
O representante estatal mencionou em particular "três áreas" em bairros desfavorecidos na periferia da capital, cidade habitada majoritariamente por indígenas kanak.
O Exército também se mobilizou para garantir a segurança nos portos e no aeroporto do território, que continuará fechado a voos comerciais até 21 de maio, segundo a companhia aérea local Aircalin.
Durante os distúrbios, grupos de kanak bloquearam estradas, queimaram pneus e exibiram a bandeira desse território. Alguns moradores assustados, muitos oriundos da França continental, organizaram barricadas e grupos de defesa armados.
Na manhã desta sexta, jornalistas da AFP viram chamas e fumaça emergindo de um centro comercial, prédios incendiados e dezenas de carro carbonizados que os moradores tentavam afastar das estradas.
Também havia filas de centenas de pessoas esperando em frente a lojas para tentar conseguir comida e suprimentos básicos, que acabam devido aos saques.
Entre 80% e 90% das lojas de alimentos - sejam grandes mercados ou pequenas lojas locais - foram “dizimadas”, disse o presidente da Câmara de Comércio e Indústria, David Guyenne.
Apesar da melhora da situação, as autoridades mantêm as medidas de proibição de reuniões, de porte de armas e venda de álcool, assim como o toque de recolher das 18h às 6h.
O governo francês também proibiu no arquipélago o uso do TikTok, rede social que os manifestantes estariam utilizando, uma decisão "inédita em uma democracia europeia", lamentou a líder opositora de esquerda radical Mathilde Panot.
Nesta sexta-feira, as autoridades informaram sobre uma quinta vítima relacionada a essa crise: um gendarme que morreu por um "disparo acidental" de um colega. Anteriormente, haviam sido registradas as mortes de três civis kanak e um gendarme que foi baleado.