Foto tirada pela sonda chinesa Chang'eDivulgação
A China comemorou o retorno da sonda Chang'e à Terra, que chegou na terça-feira (25) com amostras de rochas e poeira da parte oculta da Lua, após uma missão de 53 dias que reacendeu teorias da conspiração sobre as alunissagens das missões Apolo da Nasa.
Os verificadores de fatos da AFP desmascararam uma série de mensagens em chinês sugerindo que a missão histórica da Nasa em 1969 - o primeiro pouso humano na Lua - foi encenada, bem como outras que deturpavam fotos de pousos posteriores na Lua.
As narrativas falsas, segundo os pesquisadores, podem gerar mais percepções antiamericanas na China, em momentos de tensão nas relações entre Washington e Pequim.
"Sem dúvidas, há uma grande rivalidade espacial entre Estados Unidos e China, e qualquer desinformação sobre a atividade de algum país é preocupante", comentou à AFP Saadia M. Pekkanen, da Universidade de Washington.
"É outra forma de negar a potencial diplomacia espacial na concorrência geopolítica entre os dois países", acrescentou.
Quando a Agência Nacional Espacial da China divulgou em junho uma foto de uma bandeira chinesa sobre uma pedra hasteada na parte oculta da Lua pela Chang'e 6, usuários do X a compararam com uma imagem de 1972 do astronauta da Nasa Harrisson H. Schmitt ao lado de uma bandeira americana na Lua.
Sugeriram falsamente que a missão Apolo 16 teria sido uma montagem, porque a bandeira de pano de Schmitt parece "soprada" pelo vento, mas a Nasa já explicou que utilizou uma barra horizontal para estendê-la.
'Insegurança'
Outros usuários compartilharam um foto da banda alemã Rammstein com roupas de astronauta no Weibo com a seguinte legenda: "Agora acredito que a alunissagem americana era real".
Pequim destinou uma enorme quantidade de recursos para seu programa espacial na última década para diminuir a diferença em relação aos Estados Unidos e Rússia.
A China quer enviar uma missão tripulada à Lua até 2030 e planeja construir uma base na superfície lunar, enquanto os Estados Unidos planeja levar astronautas à Lua até 2026 com sua missão Artemis 3.
Não foi possível verificar se a desinformação é alimentada por agentes estatais chineses, mas sua rápida propagação em redes sociais muito controladas gerou dúvidas sobre seu possível apoio ou participação.
"Pequim, às vezes, permite que os sentimentos antiamericanos e a informação falsa corram à solta pela internet chinesa como uma válvula de escape ante as tensões internas", comentou à AFP Isaac Stone Fish, executivo da empresa de dados Strategy Risks, centrada na China.
Permitir a propagação de teorias da conspiração sobre a alunissagem americana pode ser reflexo da insegurança de Pequim sobre a corrida espacial entre a China e os Estados Unidos", acrescentou.
Propagar mentiras
"Existe uma grande comunidade na internet disposta a falar sobre as conspirações da alunissagem", declarou à AFP Darren Linvill, da Universidade Clemson.
"Se puder utilizar esse público para propagar uma mentira que apresente a China de maneira mais positiva, melhor para a China", indicou.
A cobertura da mídia estatal chinesa elogiou fortemente o sucesso da sonda Chang'e 6, ao mesmo tempo em que criticou os EUA. Washington alertou que o programa espacial da China é usado para ocultar objetivos militares e um esforço para alcançar a hegemonia espacial.
O diário nacionalista Global Times informou que a missão Chang'e 6 ilustra "a atitude aberta e inclusiva (chinesa) em relação à cooperação internacional", em contraste com os Estados Unidos, que, segundo ele, estão "ocupados cantando 'ameaça chinesa' na chamada corrida espacial".
Nesse contexto, a AFP desmascarou as publicações em chinês no Facebook, Weibo, TikTok e sua versão chinesa Douyin que citam um porta-voz da Casa Branca dizendo que os EUA e a China pousaram em "luas diferentes".
"O povo chinês pode se orgulhar da jornada histórica de seu módulo lunar", comentou Stone Fish. "Eles não precisam ser vítimas da velha teoria da conspiração de que os EUA falsificaram seus pousos na Lua.
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