Equipes de emergência resgataram mais de 500 pessoas sob a lamaAFP

As chuvas constantes e os ventos fortes dificultam nesta quarta-feira, 31, a busca por sobreviventes dos deslizamentos de terra nas plantações de chá no sul da Índia, onde morreram mais de 150 pessoas, a maioria trabalhadores e suas famílias.

Chuvas torrenciais de monções atingiram o estado costeiro de Kerala nos últimos dias, bloqueando as estradas de acesso à região do desastre no distrito de Wayanad.

A única ponte que liga as cidades mais afetadas, Chooralmala e Mundakkai, desapareceu e as equipes de resgate tiveram que retirar os corpos em macas amarradas a tirolesas elevadas precariamente acima das águas.

Várias pessoas que conseguiram fugir foram surpreendidas pela cheia de um rio, disse à AFP o socorrista voluntário Arun Dev, em um hospital que atendia os sobreviventes. "Aqueles que escaparam foram levados junto com suas casas, igrejas e escolas", disse ele.

O policial M.R. Ajith Kumar disse à AFP que cerca de 500 pessoas foram resgatadas desde os sucessivos deslizamentos de terra que ocorreram na madrugada de terça-feira.

"Até agora recuperamos mais de 150 corpos", disse. "Ainda existem grandes áreas que precisam ser exploradas e rastreadas para ver se pessoas viviam lá ou não", acrescentou.

Wayanad é conhecida por suas plantações de chá nas áreas montanhosas, onde há muitos trabalhadores no plantio e na colheita. Várias plantações foram atingidas pelos dois deslizamentos de terra.

Casas de tijolos que abrigam trabalhadores temporários foram cercadas por um muro de lama enquanto seus familiares dormiam. O deslizamento cobriu carros, amassou barras de aço e espalhou destroços pelo local do desastre.

"O fluxo de resíduos do desastre é extremamente violento, tornando a sobrevivência muito difícil", disse à AFP o especialista em geofísica Dave Petley, da Universidade de Hull.

A catástrofe "foi agravada pela hora – muito cedo, quando as pessoas estavam dormindo – e pelas estruturas frágeis que oferecem pouca proteção", acrescentou.

Mais de 3.000 pessoas estavam abrigadas em acampamentos nos arredores de Wayanad, segundo o governo estadual.

Nos dias anteriores ao desastre, a área recebeu pelo menos 572 milímetros de chuva, segundo o chefe de gabinete do estado, Pinarayi Vijayan.

A agência de desastres de Kerala disse que mais chuvas e ventos fortes são esperados na quinta-feira, com chances de "danos a estruturas inseguras" em outras áreas do estado.

Destruição 
As chuvas associadas às monções no sul asiático geralmente duram de junho a setembro, aliviam o calor sufocante do verão e recarregam os reservatórios de água.

Embora sejam vitais para a agricultura e a segurança alimentar dos dois bilhões de habitantes da região, também costumam provocar enchentes e deslizamentos de terra.

A frequência destas catástrofes naturais aumentou nos últimos anos e os especialistas indicam que as mudanças climáticas agravaram o fenômeno.

"Eventos como deslizamentos de terra são resultado de chuvas intensas desencadeadas pelas mudanças climáticas", disse à AFP Kartiki Negi, especialista do instituto indiano Climate Trends. "A Índia continuará vivendo mais e mais impactos como estes no futuro", acrescentou.

Além disso, a construção de barragens, os projetos urbanos e o desmatamento na Índia pioram suas consequências.

As fortes chuvas também afetaram este mês a capital financeira indiana de Bombay. Cerca de 500 pessoas morreram nos arredores de Kerala em 2018, nas piores inundações em um século neste estado.