Arévalo pediu a eleição de profissionais comprometidos com a justiça para evitar a continuidade da corrupção no JudiciárioJOHAN ORDONEZ / AFP
Os alarmes foram disparados por denúncias de interferência do chamado "Pacto da Corrupção", a suposta rede de políticos, promotores, juízes e empresários poderosos que, das sombras, puxam as cordas do poder no país há anos.
Confira os cinco pontos-chave sobre o processo.
Nesta eleição, "a democracia está em jogo na Guatemala, porque está em jogo a independência judicial", afirma a advogada mexicana Ana Delgadillo, membro de um painel de especialistas internacionais que acompanham o processo.
O sistema Judiciário "se deteriorou a ponto de estar agora a serviço de políticos envolvidos em redes criminosas e de corrupção", disse à AFP a diretora da ONG ProJusticia, Carmen Aída Ibarra.
A Guatemala ocupa o 30º lugar no ranking de corrupção da ONG Transparência Internacional, entre 180 países.
Segundo Arévalo e diversas ONGs, a face mais visível do 'Pacto da Corrupção" é a procuradora-geral, Consuelo Porras, sancionada pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
O coordenador do coletivo Alianza por las Reformas, Juan Pablo Muñoz, destaca que o "Pacto de Corrupção" tenta "recuperar aquela fonte de riqueza, de vagas [empregos] fantasmas, de contratos anômalos".
"Para o governo seria um fator de estabilidade que houvesse na Corte Suprema de Justiça pessoas que não se prestem ao jogo golpista" de Consuelo Porras, afirma Ibarra.
De acordo com os observadores, os "poderes de fato" lutarão para manter sua influência no poder.
"O que estamos vendo é uma luta entre esses poderes de fato. Eles perderam o Executivo, mas não querem perder o Judiciário", disse a ex-ministra das Relações Exteriores do Chile Antonia Urrejola, que também faz parte do painel de especialistas internacionais.
Em um relatório preliminar apresentado na semana passada, o painel expressou sua "preocupação" devido aos indícios de "negociações paralelas por parte de atores econômico-políticos corruptos" para favorecer aspirantes ligados a eles.
Onze ONGs internacionais que promovem a transparência pediram, nesta sexta-feira, a escolha de "pessoas éticas, capazes e independentes" nas cortes.
Além disso, 12 dos 13 atuais juízes da Suprema Corte tentam a reeleição, os quais têm regularmente decidido a favor de Porras.
O marido da procuradora-geral, Gilberto Porras, também concorre aos Tribunais de Apelações.
"Parece inconcebível que existam candidatos que foram sancionados internacionalmente por suas ações antidemocráticas e corruptas e que concorrem a altos cargos", afirma Urrejola.
Ibarra considera que a intenção de Porras é "colonizar" o Judiciário para "consolidar" a perseguição aos seus inimigos e favorecer os "acusados de corrupção de governos anteriores".
Arévalo pediu que sejam eleitos profissionais comprometidos com a justiça para impedir que o poder judiciário continue capturado "por interesses corruptos".
"Surpreende que continuem no processo aspirantes com graves apontamentos de corrupção (...), assinalados internacionalmente por minar a democracia", acrescentaram as ONGs estrangeiras.
Cerca de 20 ativistas se manifestaram, nesta sexta-feira, na universidade onde a comissão se reúne para exigir a exclusão da lista de Curruchiche e outros aspirantes questionados.
A bancada do partido Semilla, de Arévalo, sofreu reveses no Congresso, mas nas últimas semanas conseguiu consenso com as forças da oposição sobre algumas questões, incluindo o orçamento.
A eleição anterior de magistrados foi bloqueada em 2019, depois de ter sido relatado que um influente operador político tinha manipulado as listas de candidatos elegíveis.
Por este motivo, a Suprema Corte funcionou durante quatro anos, até novembro de 2023, com magistrados com mandatos vencidos.
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