Pentágono afirma que Coreia do Norte enviou 10 mil militares à RússiaAFP

A Coreia do Norte enviou cerca de 10.000 militares à Rússia para receber treinamento, informou o Pentágono nesta segunda-feira (28). A estimativa é três vezes maior que a anterior, no momento em que Otan e União Europeia temem uma escalada perigosa da guerra na Ucrânia.

Moscou e Pyongyang intensificaram sua cooperação militar desde o início da invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022, mas a participação de tropas norte-coreanas nos combates representaria um grande passo adiante.

"Acreditamos que a RPDC [República Popular e Democrática da Coreia, o nome oficial da Coreia do Norte] enviou cerca de 10.000 soldados no total para treinar no leste da Rússia, o que provavelmente aumentará as forças russas perto da Ucrânia nas próximas semanas", disse a jornalistas a subsecretária de imprensa do Pentágono, Sabrina Singh.

"Algumas" dessas tropas "já estão próximas da Ucrânia", acrescentou.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou o envio de tropas norte-coreanas como "muito perigoso".

No terreno, o Exército russo avançou 478 km² em território ucraniano desde o início de outubro, seu maior ganho territorial em um mês desde março de 2022 e as primeiras semanas da guerra, segundo uma análise da AFP baseada em dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês).

Até 27 de outubro, as forças russas tinham ganhado mais terreno do que em agosto e setembro (477 e 459 km²), meses que ficaram marcados por importantes movimentos na linha de frente, em particular no leste da Ucrânia, em torno da cidade de Pokrovsk.

'Escalada perigosa' 
Horas antes das declarações do Pentágono, o novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, também havia feito um alerta a partir da sede da Aliança em Bruxelas.

"Posso confirmar que tropas norte-coreanas foram enviadas à Rússia e que unidades militares norte-coreanas foram deslocadas para a província de Kursk", disse ele, referindo-se a uma "escalada perigosa".

De acordo com Rutte, o fortalecimento da cooperação militar entre Rússia e Coreia do Norte representa uma "ameaça para a segurança da região Indo-Pacífica e Euro-Atlântica".

Em troca do envio de tropas, a Rússia "fornece à Coreia do Norte tecnologia militar e outros tipos de auxílio para contornar as sanções internacionais", acrescentou.

Mas o uso de tropas norte-coreanas "também é um sinal do crescente colapso" de Vladimir Putin, afirmou Rutte.

"Mais de 600.000 soldados russos morreram ou foram feridos na guerra" desencadeada pelo presidente russo, "incapaz de continuar seu ataque à Ucrânia sem apoio estrangeiro".

Após um telefonema com o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a virada que representa o envio, "pela primeira vez", de soldados norte-coreanos "em apoio à guerra de agressão da Rússia".

EUA, China e seus vizinhos
Os Estados Unidos disseram nesta segunda-feira que haviam expressado sua preocupação às autoridades chinesas pelo envio de soldados norte-coreanos à Rússia, provavelmente para ajudar Moscou em sua guerra contra a Ucrânia.

"Fizemos contato com a China sobre este assunto para que eles soubessem que estamos preocupados e que eles também deveriam estar pela ação desestabilizadora de dois de seus vizinhos, Rússia e Coreia do Norte", disse à imprensa o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, lembrando que Pequim tem uma "voz influente" na região.

Na semana passada, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu ao Ocidente punições para a parceria entre Rússia e Coreia do Norte.

"As sanções não bastam. Precisamos de armas e de um plano claro para impedir que a Coreia do Norte se envolva mais na guerra na Europa", instou o chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, na rede X.

"Hoje, a Rússia está envolvendo a Coreia do Norte; mais adiante, poderia ampliar seu envolvimento e outros regimes autocráticos poderiam ver que podem conseguir o que querem e vir lutar contra a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", advertiu.

"O inimigo entende a força. Nossos aliados têm essa força", concluiu o chefe de gabinete de Zelensky, referindo-se à ajuda militar que Kiev espera de seus aliados para se contrapor a Moscou.

Por sua vez, a Coreia do Norte garantiu que qualquer destacamento de soldados na Rússia estaria de acordo com o direito internacional, sem confirmar nem desmentir sua presença.