Depois de um longo período de campanha eleitoral, pelo menos no que diz respeito às religiões, houve situação atípica. Elas foram literalmente arrastadas para palanques, comícios, fotos, documentários. Sem ao menos terem sido consultadas se gostariam de participar.
Não é princípio de nenhum segmento religioso, pelo ao menos em sua história, participar de qualquer forma de assuntos políticos. A essência do religioso está em se doar, amar o próximo, tornar pública a história de sua religião e seu povo. Incentivar a paz, trabalhos sociais e tudo que diz respeito ao bem-estar dos seus e dos outros. E para isso, o ingrediente principal é o respeito.
Porém, infelizmente a polarização religiosa tomou proporções jamais vistas. Não só entre as religiões, mas também intra-religiosa, com religiosos de um mesmo segmento se desentendendo com um grau de agressividade que não diz respeito à essência primaria deles. E o incentivo a esse comportamento foi contínuo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro discurso ressaltou esse problema e a necessidade de que a paz seja restaurada imediatamente. Desde o início observamos essa desconstrução e optamos por deixar terminar para “colar os cacos”.
A importância dessa união é primordial para os trabalhos realizados. É inegável que as religiões durante a pandemia foram as maiores parceiras do poder público. E silenciosamente, sem mídia, sem solicitar qualquer ajuda financeira das organizações governamentais. Durante esses dois anos, os espaços religiosos foram abertos para acolher moradores em situação de rua. Distribuição diária de refeições, cestas básicas, cestas de hortifruti, cestas de higiene pessoal, máscaras e álcool em gel.
Por isso, perdemos tantos religiosos, que preferiram correr o risco da contaminação a abandonar o ser humano. É sabido por todos que moradores em situação de rua recebe melhor os religiosos do que as organizações governamentais. Simplesmente porque não só entregamos alimentos. Sentamos, conversamos com cada um e conseguimos mapear a situação que estão.
Como foi dito no início do artigo, optamos por observar, mas não ficamos de braços cruzados. Em setembro de 2022 o Instituto Expo Religião promoveu um Congresso Inter-religioso e Internacional. Na abertura recebemos dois convidados para colocarmos em prática a uma nossa iniciativa que tomou forma através da Comissão de Juristas Inter-religiosa Diálogo pela Paz, criada pelo Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta. Sugerimos dois projetos de lei, um estadual e outro federal. O primeiro, que visa a punição administrativas incluindo multas, foi entregue à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e hoje é conduzido pelo deputado Carlos Minc (PSB), presidente da comissão das Discriminações Racismo e Intolerância religiosa da Casa.
A proposta do projeto de lei federal, que visa o aumento de pena nos casos de Racismo e Intolerância Religiosa e principalmente para os reincidentes, foi entregue à deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). Deixando claro que de verdade os religiosos não desejam punições efetivamente.
Nossa esperança com essas leis não é a punição de verdade, mas sim a inibição das atitudes violentas sabendo que existe uma lei mais severa que a de hoje. Tudo descrito acima é para que vejam a importância da união e de cuidar do próximo. E esperamos que essa situação não se repita. Agora é hora de colar os casos.
Luzia Lacerda é jornalista e diretora responsável do Instituto Expo Religioso
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