Espaço será entregue aos advogados campistas nesta sexta-feira (16), com presença do presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira.Bruno Mirandella.

A vida me deu o prazer da amizade de muitos jornalistas. Mas nestes tempos bicudos, admito que não os invejo. A escalada da violência e do ódio não permite respiro. Como diria o slogan da rádio Bandnews FM, “a cada 20 minutos, tudo pode mudar”. A coluna desta semana seria exclusivamente sobre as causas do assassinato de um torcedor no Maracanã. Mas tivemos também a tragédia da creche em Blumenau (SC), que chocou o país.
Na impossibilidade de falar sobre tudo, inclusive por falta de elementos disponíveis sobre Santa Catarina até o fechamento desta edição, vou me ater ao que aconteceu na decisão do Campeonato Carioca.
A violência no Rio de Janeiro não é um problema de hoje e nem de fácil solução. Muito já se tentou a respeito, com resultados mais exitosos e menos exitosos, mas certamente o livre acesso a armas de fogo não vai ajudar em nada nesta questão. Está difícil a gente abrir os jornais, um portal de notícias na internet ou assistir a um telejornal sem nos depararmos com um assassinato por motivo fútil, banal.
Foi o que aconteceu no fim de semana passado, após o primeiro jogo da decisão do Carioca, entre Flamengo e Fluminense. Thiago Leonel, de 40 anos, foi morto com nove tiros disparados pelo policial penal Marcelo de Lima, que estava armado em dia de folga, dentro de um bar a poucos metros do estádio mais famoso do mundo.
Segundo as investigações, o motivo teria sido uma discussão em virtude de um pedaço de pizza. Mais banal, impossível. Bate-boca é algo que acontece no dia a dia? Infelizmente, sim. O que não deveria acontecer é o culto ao ódio e à violência como forma de solucionar os conflitos, bem como o livre acesso às armas de fogo. A legislação, inclusive, proíbe o seu uso por civis associado ao consumo de bebidas alcoólicas. Poderia e deveria ser mais rigorosa, estendendo a regra para policiais. Teríamos evitado (mais uma) tragédia.
Mas não é só isso. As brechas na nova legislação, um tanto quanto armamentista, inundaram não só a sociedade civil como o crime organizado de munições e armamentos pesados. E não foi falta de aviso. Já falamos aqui mesmo neste espaço, em O DIA, há três anos, que o culto às armas e à política de solução de conflitos “na marra” não teria bom resultado. Usei exemplos como discussões de trânsito, em bares, na praia lotada ou num Fla x Flu no Maracanã. Não foi preciso bola de cristal para acertar o triste desfecho.
O futebol é o nosso maior cartão postal. O Fla x Flu, o maior símbolo deste cartão postal. Que a barbaridade ocorrida no fim de semana sirva de lição para a gente entender que litígios se resolvem com diálogo e mediação. Em último caso, na Justiça. Quando feita pelas próprias mãos, quase sempre termina em tragédia.
Luciano Bandeira é presidente da OABRJ