Arte coluna opinião 08 maio 2023 paulo márcio

O presidente Lula sempre foi referência de um homem público que construiu uma carreira com base na capacidade de dialogar, conciliar, agregar. Desde que surgiu na liderança sindical foi chamado de “interlocutor de confiança”, pelos patrões e pelos governantes da época, em pleno regime militar, que nunca o molestou. Com essas qualidades e um vento mundial favorável, teve dois mandatos razoáveis e elegeu para outros dois um poste, visto que a presidente Dilma nunca mostrou qualidades de política, gestora ou oradora.
Depois de envolvido em inúmeros casos de corrupção, direta ou indiretamente, o que lhe custou condenações e mais de um ano de cadeia, recebeu uma anulação de julgamentos, cujos processos foram enviados para outro juízo e não se ouviu mais falar neles. Contou ainda com a interferência do STF, em decisões que não encontram unanimidade entre juristas. Assim ficou habilitado a concorrer à Presidência da
República, onde chegou menos pela sua atuação e mais pela dedicada autodestruição de seu opositor, despreparado para corresponder aos favores do destino.
Bolsonaro não parou de gerar polêmicas e crises, agredir e discriminar, independentemente do bom governo em termos de progresso e ordem que vinha fazendo. A insegurança e o deslumbramento foram mais fortes do que a humildade e a sabedoria de saber ouvir.
Eleito com os votos da rejeição ao desastrado oponente, entre os poucos pronunciamentos feitos na campanha, Lula comprometeu-se a um governo conciliador e que unisse o país. A promessa foi esquecida desde o primeiro dia.
Lula não para de bater no antecessor, que ruma para o ostracismo, contando apenas com uma base de apoiadores mais radicais que não chegam a um terço do que teve nas eleições presidenciais que venceu. Sem um projeto para o país, para a crise decorrente da pandemia e do ambiente mundial, o atual presidente gera atritos, decepciona alguns, busca no campo internacional marcar uma presença que vem se transformando em uma sucessão de infelicidades que o levam a se desdizer a cada momento.
Nos EUA, foi bem recebido, mas, desconfiados de sua tradição antiamericana, fenômeno comum na América Latina, a questão ambiental e a defesa da democracia marcaram os encontros. Nada de concreto. Na China e em Portugal, dois desastres. Revela simpatias com a Rússia invasora, critica os EUA e a União Europeia, faz declarações sobre o Oriente Médio sem base na verdade histórica e desfavorável a Israel, país com fortes ligações com o Brasil. Generoso com a Argentina, que derrete, coloca em risco o aval oficial nas operações comerciais. Como se não tivéssemos industrias sendo fechadas.
No campo interno, tem sido pródigo em contrariar desnecessariamente segmentos significativos. Retira o nome da Princesa Isabel de uma comenda que substitui por outro nome, muito digno, aliás, mas desconhecido. Poderia ter criado uma comenda que não discriminasse aquela que é tida como a maior das brasileiras, inclusive com processo no Vaticano para sua beatificação.
O agronegócio, que sustenta a Economia nacional, fenômeno mundial, depois de anos de paz, enfrenta a ação criminosa de invasores, com tolerância da autoridade pública. E a afronta de ver o líder das invasões integrar uma comitiva presidencial ao exterior. Além disso tudo, parece claro um projeto de intimidar e tentar anular o prestígio que os militares gozam na sociedade brasileira.
Não é este o Lula que se apresentou ao eleitorado como a opção que poderia unir e conciliar o país. Seu mérito parece ficar apenas em ter afastado o caricato presidente, que fez questão de anular seus feitos ao se deixar levar pela arrogância e ignorância. Uma pena!
Aristóteles Drummond é jornalista