opina20junARTE O DIA

Em julho de 2022, o Brasil chegou ao seu triste ápice de insegurança alimentar, totalizando mais de 33 milhões de pessoas com algum grau de fome no país, segundo o levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Além disso, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que 23 milhões de brasileiros vivem com o equivalente a R$ 7 por dia ou menos de R$ 210 por mês.
Esses números refletem uma política que não tem dado certo ou que pretende apenas dizimar pessoas pobres da sociedade, uma vez que os mais vulneráveis são aqueles que vivem em morros e favelas, em sua grande maioria pessoas negras. Por isso, é sempre importante lembrar que a soberania alimentar é um direito do cidadão e que precisa ser fomentada pelos poderes públicos, com políticas voltadas para esta parcela da população que necessita desta atenção segmentada.
Segundo o relatório da Rede Penssan, em dezembro de 2022, 60% das famílias brasileiras não tinha acesso pleno à alimentação. Ou seja, apenas quatro em cada dez famílias brasileiras vivem em situação de soberania alimentar.
Muito além de “matar a fome”, a soberania alimentar, teoricamente, implica no direito e na autonomia da população de um país de organizar a produção e a distribuição dos alimentos. Mas, ela visa também uma alimentação saudável, melhoria da nutrição e o fomento da agricultura sustentável. Para que isso ocorra, é necessário um investimento público em setores tidos como secundários e que esses aportes sejam repassados a empresas e produtores que possibilitem uma alimentação equilibrada e com os nutrientes necessários e justiça e igualdade.
Esse é o caso da Horta do Manguinhos, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Tive o prazer de participar da reinauguração do espaço que é considerada a maior horta comunitária da América Latina. O retorno da produção só foi possível com a luta conjunta entre poder público e moradores. A minha avó plantou taioba, agora podemos lutar e plantar taioba, abóbora, feijão, alfavaca e ter uma alimentação segura e de qualidade.
A Horta do Manguinhos foi criada em um espaço que era considerado uma “cracolândia”, em 2013. O espaço foi revitalizado pelos moradores e passou a gerar alimentação saudável para cerca de 800 famílias, mensalmente.
Um alento para essas populações, pelo menos aqui no Rio, é o programa AlimentaRio. Tenho a honra de estar à frente da Secretaria de Ambiente e Clima da Cidade do Rio e coordenar um projeto tão grandioso e que vai unificar a produção orgânica de alimentos e o seu consumo consciente em uma ação conjunta dos programas Hortas Cariocas e Cozinhas Sustentáveis.
O objetivo é fomentar a alimentação saudável e a soberania alimentar dos cariocas e a saúde do planeta. Um dos gargalos das grandes cidades é justamente a insegurança alimentar e o descarte indevido de resíduos alimentares e sabemos que há um perfil social que é vigorosamente atingido pela fome e insegurança alimentar, sendo composto por mulheres, pessoas pretas e pardas, pessoas desempregadas e trabalhadores informais. É urgente olhar para essas pessoas e mudar esse quadro.
É muito gratificante ver em vida que posso ser elemento de transformação para tanta gente. Que nunca nos falte.
Tainá de Paula é secretária municipal de Ambiente e Clima do Rio