Jessica Pinha Pediatra especialista em nutrição infantil pela Universidade de BostonDivulgação

No último dia 12, a Câmara dos Vereadores aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que proíbe alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e privadas. Balas, refrigerantes biscoitos e sorvetes industrializados serão banidos. Isso é uma vitória e uma grande ajuda para nós, pediatras, que trabalhamos pela saúde e pelo bem-estar da molecada.
Dados preliminares de um estudo de Comercialização de Alimentos em Escolas Brasileiras (CAEB), coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontam que a disponibilidade de alimentos não saudáveis nas cantinas escolares do Rio é 126% maior que a quantidade de alimentos saudáveis. Mas precisamos ir além das escolas. Precisamos mudar os hábitos das famílias para termos uma sociedade mais saudável. A criança precisa aprender em casa e ver exemplos para ter uma alimentação saudável. Uma criança que se alimenta de forma saudável e que pratica exercícios físicos de forma regular se transformará num adulto saudável.
A obesidade infantil é uma das doenças mais preocupantes da realidade das crianças brasileiras. E o mês de junho é destinado à conscientização da população. Vale destacar que crianças acima do peso são mais propensas a terem apneia do sono, problemas respiratórios, diminuição da autoestima, problemas respiratórios e cardíacos, além do risco de diabetes. O segredo da prevenção está em descascar mais do que desembalar. Quanto mais próximo o alimento estiver de seu estado original, melhor.
O aumento da obesidade infantil no mundo preocupa. Dados recentes do Atlas da Obesidade no Mundo 2023 fazem com que acendemos o alerta. Afinal, 400 milhões de crianças conviverão com a obesidade em 2035. No Brasil, números do Ministério da Saúde mostram que 6,69% das crianças de 0 a 5 anos estão acima do peso.
A primeira infância, do nascimento aos dois anos de idade, é a fase mais importante para a criação dos hábitos alimentares. A amamentação ajuda e muito a prevenir a obesidade infantil no futuro. O ideal é que as mães amamentem no mínimo até os seis meses do bebê. Na introdução alimentar, as crianças precisam sentir os alimentos, suas texturas e seus diferentes gostos. Processar os alimentos e fazer a tradicional sopinha é um grande erro que também ajuda na obesidade. O ideal é a criança ter um prato balanceado e poder comer as mesmas comidas dos adultos, mas sem sal e açúcar.
Neste cenário é louvável a aprovação desta lei na Câmara dos Vereadores do Rio, mas o desafio maior é atingirmos as famílias. Por isso, a importância da Saúde da Família para que um pediatra acompanhe as crianças desde o nascimento.
E acredito que uma palavra pode ajudar a minimizar os drásticos impactos destes números: exemplo. Dentro de casa, nossas crianças precisam ter exemplos de uma alimentação saudável. Afinal: quem compra os alimentos consumidos pela garotada? O que adianta uma escola saudável e uma casa desequilibrada nutritivamente? É necessário um equilíbrio urgente. Vamos nessa?
* Jessica Pinha é pediatra especialista em nutrição infantil pela Universidade de Boston