Ser agente de segurança no Brasil é um desafio. Ser policial no Rio de Janeiro é ainda mais. É viver com o perigo, "flertando" com a morte, pois o confronto direto com criminosos acontece em qualquer lugar e a qualquer hora do dia. Uma realidade com consequências drásticas, policiais assassinados e vítimas dos efeitos psicológicos e físicos da violência. Sobreviventes da guerra urbana de uma cidade que se tornou um barril de pólvora em todas as regiões.
Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, até abril deste ano, 50 agentes de segurança foram atingidos por arma de fogo na região metropolitana do Rio, número 39% maior que o mesmo período de 2022. Metade morreu. O número de mortos cresceu 47% e, em verdade, esse índice pode ser maior, pois não há estatística precisa.
Outro dado estarrecedor é o número de policiais mutilados. Conforme recente levantamento da Polícia Militar do Rio, nos últimos 10 anos quase 40 PMs tiveram alguma parte do corpo amputada por conta de ferimentos por arma de fogo durante o exercício da profissão. Muitos, vítimas de tiro de arma de alto calibre, como fuzis, metralhadoras, entre outras.
Isso porque eles enfrentam situações idênticas ao campo de guerra. Confrontos com um inimigo em posse de armamentos pesados, diferente dos policiais com armas que não estão à altura do poderoso arsenal dos criminosos. Para se ter ideia, além dos caveirões blindados, inclusive recentemente um foi incendiado na comunidade do Bateau Mouche, na zona oeste, a corporação teve que adquirir ambulâncias blindadas para resgatar feridos durante as operações.
Outro reflexo desse estado de tensão que os policiais vivem está em sua saúde mental. Anualmente, o número de policiais afastados por depressão, síndrome do pânico, traumas etc. vem numa crescente há pelo menos quatro ou cinco anos. No estado, entre 2019 e 2021, o número de casos de suicídio entre policiais civis e militares subiu 150%. A alta é quase três vezes maior que a média nacional, que cresceu 55% em 2020, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Enfim, um caos. É preciso o quanto antes medidas efetivas para mudar essa realidade, minimizando a violência na Cidade e seu impacto não só junto à população, que também sobrevive a essa guerra, mas também junto aqueles que enfrentam, como heróis, o poderio da criminalidade.


*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública