Tainá de Paula é vereadora licenciada e ocupa o cargo de secretária de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de JaneiroDivulgação
Metade dessas vítimas foram baleadas durante ações ou operações policiais, como foi o caso do jovem T. M. F., de 13 anos, morto a tiros na Cidade de Deus, no dia 7 de agosto. A Corregedoria da Polícia Militar do Rio indiciou os policiais envolvidos no caso por tentar fraudar a cena do crime. Nenhum dos agentes que estavam no local usava câmera nos uniformes, o que poderia ajudar a solucionar o caso. Mas sabemos por que eles não usavam as câmeras. Ou seja, praticamente duas vítimas por semana. Em qualquer lugar sério do mundo, esses índices não seriam permitidos sem ação por parte do Estado para mitigar essas aberrações sociais. Mas a grande maioria das vítimas são crianças e adolescentes negros, moradores de periferia e não comovem a sociedade como um atropelamento na Barra da Tijuca, por exemplo.
Analisando friamente esses dados, são apenas números de um mês violento no Rio, mas esses dados vão muito além de violência cometida contra jovens, é uma violência cometida, em sua maioria, pelo Estado e contra pessoas em situação de vulnerabilidade, e alguns agentes ainda tentam forjar cenários para incriminar as vítimas.
Todos esses indícios mostram a intenção dos agentes ao entrar em locais em que moram pessoas negras e periféricas, como é o caso da Cidade de Deus e vários outros territórios no estado. A necropolítica que destrói famílias inteiras e sonhos de jovens negros.
Para se ter uma ideia da disparidade de investimentos, no ano de 2022, somente a Polícia Militar do Rio de Janeiro contou com um aporte de R$ 246 milhões para investimentos em diversas frentes. Já o Esporte e Lazer no Estado conta com um valor muito abaixo, chegando a R$ 30,6 milhões, de acordo com o Orçamento do Estado, aprovado pela Alerj. Além disso, em agosto deste ano, o governo do Estado criou uma bonificação para agentes das polícias Civil e Militar de R$ 5 mil para cada fuzil apreendido "no exercício de suas funções".
Esta determinação vem sendo duramente criticada por especialistas em segurança pública e defensores dos direitos humanos no Rio, que defendem que a verdadeira intenção do governo é aumentar a presença em áreas que as políticas públicas não chegam ou não são efetivas, mas as polícias são presenças constantes. Assim como esses cinco jovens assassinados, tantos outros futuros médicos, advogados, jornalistas têm o caminho atravessado por projéteis das polícias fluminenses e, infelizmente, sabemos o quanto esses crimes ficam impunes.
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