opina13outARTE KIKO

E mais uma vez o calendário aponta o dia 15 de outubro, o que imediatamente nos remete ao dia do mestre, que por sua vez nos leva a refletir sobre a profissão docente, sobre a Educação como um todo e sobre o que temos, de fato, para comemorar nesse dia. Se tivermos um olhar macro, não há muito o que festejar, a começar pela incerteza que o futuro da profissão aponta.
O Brasil não tem conseguido atrair os jovens para a profissão docente e, se mantido o ritmo atual de formados em cursos de licenciatura, a educação básica do país pode enfrentar um déficit de 235 mil professores até 2040. Não adianta apenas calcularmos quantos professores vão se aposentar nos próximos anos e quantos novos professores terão que ser contratados. O raciocínio precisa ser sustentável e, para isso, precisamos fazer intervenções para que os jovens se sintam atraídos pela carreira, uma vez que apenas 5% deles demonstram interesse em tornarem-se professores. A falta de entusiasmo com a profissão ocorre, em grande parte, por conta da imagem socialmente desfavorecida que a profissão docente tem tido junto às mídias sociais e aos meios de comunicação.
Soma-se a essa constatação, pesquisas que apontam que os baixos salários e a falta de perspectiva de carreira são os principais motivos que têm levado professores a desistirem da profissão. Transtornos psicológicos causados pela rotina difícil é outro ponto bastante citado. Tornando o contexto um pouco mais tenso, levantamentos realizados junto a Secretarias Estaduais e Municipais de Educação vêm constatando
que, cada vez mais, bons professores estão abandonando a profissão, o que nos preocupa ainda mais.
Então, para termos o que comemorar, precisamos nos ater a micro-olhares que nos permitam enxergar o diferencial principal dessa profissão: a capacidade de acreditar que outro pode ser melhor. É isso que caracteriza, na essência, um professor, pois é o que revela a etimologia do verbo educar: tirar o humano de dentro do humano, confirmando o que revela o grande mestre Paulo Freire quando afirma que “A Educação é filha da esperança”. Que possamos nos alimentar de abraços e olhares carinhosos que nos permitam seguir em frente, acreditando que podemos fazer a diferença positiva no sentido de formar pessoas cada vez mais humanas. E, pelo menos nesse microuniverso, a data está longe de ser extinta.
* Júlio Furtado é professor e escritor